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O Brasil sabe educar para o trabalho?

2014 . Ano 11 . Edição 82 - 31/12/2014

rd82rep05img002O crescimento econômico que o Brasil viveu nos últimos anos trouxe, como consequência, uma maior demanda por mão de obra. No entanto, existe uma necessidade não somente de uma quantidade maior de mão de obra, como de profissionais qualificados. Necessidades que nem sempre são supridas, seja por problemas de base educacional ou simplesmente por uma oferta tardia de cursos profissionalizantes. E no fim dessa roda viva o Brasil enfrenta uma grande questão: o país sabe educar para o trabalho? E até que ponto estes gargalos podem impedir o crescimento econômico no futuro?

Esse desafio é apenas um dos temas da coletânea de artigos da publicação Rede de Pesquisa, Formação e Mercado de Trabalho, coordenada pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e pelo Ipea, com a colaboração do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Na prática, essa rede de pesquisa dá uma visão global das complexidades e interações entre formação profissional e mercado de trabalho. As conclusões dos livros mostram a transformação do mercado de trabalho brasileiro nos últimos anos e a demanda maior por profissionais da área técnica. Falam também da importância do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) no desenvolvimento técnico, entre outros temas.

Quanto mais tempo de estudo,
maior o salário. Além disso,
os pesquisadores revelam que
o Distrito Federal (DF) é onde
há maior preocupação com
qualificação profissional

Um dos aspectos analisados é a elevação do nível de renda para profissionais com maior qualificação técnica. Os pesquisadores Mario Marcos Sampaio Rodarte, Ana Flávia Machado e Júlia Almeida Calazans, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), relatam, no artigo O efeito da qualificação profissional no mercado de trabalho metropolitano: um estudo pela pesquisa de emprego e desemprego (PED) e pela sua pesquisa suplementar de 2008, que a educação está diretamente ligada à remuneração.

Quanto mais tempo de estudo, maior é o salário. Além disso, os pesquisadores revelam que o Distrito Federal (DF) é onde há maior preocupação com qualificação profissional. No caso do DF, a demanda por educação ocorre, principalmente, em decorrência da grande quantidade de concursos públicos realizados na capital federal.

Em números, o estudo aponta que trabalhadores empregados que ainda participam de curso de qualificação, ou já o fizeram, têm rendimento médio de R$ 1,4 mil; e os que estão empregados, mas não passaram por qualificações, têm rendimento médio de R$ 1 mil. Uma diferença de 40%. A pesquisa também comprova uma máxima vista nas ruas: quanto maior a qualificação, maior é a facilidade de conseguir emprego. O estudo mostra ainda que 74% das pessoas que buscaram qualificação profissional o fizeram por conta própria.

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“Isso também tem um limite. Quanto mais
qualificado, maior é a dificuldade que
determinado trabalhador terá para conseguir
uma vaga dentro de suas pretensões salariais”

Paulo Meyer, técnico de Planejamento
e Pesquisa da Diretoria de Estudos e
Políticas Setoriais de Inovação, Regulação
e Infraestrutura (Diset/Ipea)

O estudante Ruan Herculano tem conhecimento dessa realidade. Aluno do curso de Engenharia de Software da Universidade de Brasília (UnB) e estudante do curso de programador de sistemas do Senai de Taguatinga, cidade satélite do Distrito Federal (DF) distante 21 quilômetros de Brasília, ele sabe que a qualificação profissional é essencial: “A qualificação profissional torna-se cada vez mais importante a cada dia. Acredito que o curso técnico, com o curso superior, vai facilitar a minha entrada no mercado de trabalho”, afirma o estudante.

Apesar disso, o técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset/Ipea) Paulo Meyer faz um alerta. “Isso também tem um limite. Quanto mais qualificado, maior é a dificuldade que determinado trabalhador terá para conseguir uma vaga dentro de suas pretensões salariais. Também não é interessante ver um trabalhador muito qualificado e que não esteja em um lugar compatível à sua qualificação”, afirma Meyer.

rd82rep05img004O Brasil, no entanto, depende de novas competências para conseguir dar conta das mudanças no mercado de trabalho. O técnico do Ipea Aguinaldo Maciente revela, no artigo Competências e habilidades ocupacionais no Brasil, que, em decorrência do grande peso que a administração pública, a construção civil e o ensino têm na formação do mercado de trabalho brasileiro, há demanda por maiores habilidades secretariais, habilidades físicas e motoras e para a gestão de conflitos. O Brasil também tem uma demanda grande por trabalhadores com conhecimento matemático, com habilidade em transportes e com boa capacidade de trabalho em equipe. 

Por outro lado, outras competências, como a compreensão da língua ou as ligadas às atividades cognitivas, são vistas como menos essenciais no atual mercado de trabalho. À exceção de áreas mais específicas, como Tecnologia da Informação, por exemplo. Maciente revela também que em dez anos houve um crescimento de tempo de estudo dos trabalhadores brasileiros. Em 2003, a escolaridade formal do trabalhador era de seis anos e em 2013 passou para 6,4 anos.

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Ruan Herculano, aluno do curso de Engenharia de Software da 
Universidade de Brasília (UnB) e estudante do curso de
programador de sistemas do Senai de Taguatinga,
cidade satélite do Distrito Federal (DF

O vendedor Adalberto Martins, de 24 anos, é um exemplo disso. Empregado no Setor Comercial Sul de Brasília (SCS), área de grande concentração de estabelecimentos comerciais do Distrito Federal, ele conta que a cada dia precisa desenvolver melhor suas capacidades em comunicação e em trabalho de equipe para conseguir exercer bem suas funções. “Hoje é impossível trabalhar sozinho ou não depender de vários tipos de conhecimento”, reconhece o vendedor.

O Brasil ainda vive esse desenvolvimento de competências de forma paralela à escola, por meio das escolas técnicas ou das universidades. O modelo americano de ensino, analisado por Érica Amorim, doutoranda no curso de Educational Policy, Planning and Evaluation, na Florida State University, e Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), no Rio de Janeiro, revela que a melhoria de competências pode ocorrer dentro da própria escola.

No artigo Educação técnica e vocacional nos Estados Unidos, os pesquisadores mostram justamente isso. Apesar das políticas de ensino serem descentralizadas, os modelos de ensino nos Estados Unidos preveem a educação técnico-educacional em três níveis. Na primeira etapa, são oferecidas as chamadas comprehensive high schools, semelhantes aos anos finais do ensino fundamental e médio no Brasil, em que os alunos optam por cursos da área técnico-vocacional, como ciências da família, mecânica e reparos; no segundo nível, durante o ensino pós-secundário, os alunos frequentam escolas de transição de até dois anos, onde podem optar por carreiras acadêmicas, carreiras técnicas ou carreiras da área técnico-vocacional. Além destas modalidades, o ensino técnico-vocacional nos Estados Unidos também abrange as universidades, como terceiro nível.

Diante de um mercado de
trabalho com tantas mudanças
no mundo e no Brasil, fica
a pergunta: até que ponto a
base escolar brasileira ajuda
ou dificulta a formação
de novos profissionais?

Com essas modalidades de ensino, os alunos americanos têm condições de desenvolver suas competências até chegar ao nível superior, muito embora ainda existam desafios no sistema de ensino americano de se manter um equilíbrio entre disciplinas técnicas e as que visam ao universo acadêmico. Apesar disso, essa modalidade de ensino, na conjuntura econômica atual, com uma demanda cada vez maior por mão de obra qualificada e com diversas competências, acaba por desmistificar aquela antiga máxima de que ele serviria apenas para qualificar pessoas de baixa renda. Hoje, nos Estados Unidos, percebe-se que essa modalidade de ensino é extremamente importante no processo de desenvolvimento econômico do país, tendo, inclusive, apoio e acompanhamento direto da iniciativa privada em alguns casos.

Mas, diante de um mercado de trabalho com tantas mudanças no mundo e no Brasil, fica a pergunta: até que ponto a base escolar brasileira ajuda ou dificulta a formação de novos profissionais? A pesquisadora Denise Rocha, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), mostra, no artigo Gaps educacionais do ensino fundamental e médio para ingresso, permanência econclusão de um curso técnico e superior de tecnologia no setor de automação industrial, que o Brasil ainda precisa avançar muito.

Com base nos dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), a pesquisadora percebeu que os alunos egressos do ensino fundamental ou ensino médio não têm proficiência para lidar com problemas matemáticos sugeridos por cursos da área de tecnologia. O Saeb é um dos principais índices de medição da capacidade cognitiva dos alunos brasileiros.

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Gilson Brandão, professor desde 1999 e atual supervisor técnico
de cursos do Senai em Taguatinga

Em números, a média obtida por alunos do 9º ano do ensino fundamental do Saeb, em 2011, era de 253 pontos em matemática e o nível adequado exigido para alunos desta fase é de 300 pontos nessa disciplina. No caso dos estudantes do ensino médio, o nível de proficiência recomendado em matemática era de 350 pontos. O nível obtido por eles, em 2011, foi de 275 pontos. Na prática, o nível inferior ao recomendado acarreta problemas de ordem lógica aos alunos: eles têm conhecimentos em matemática, mas não conseguem interpretar ou resolver problemas matemáticos de nível mais complexo.

rd82rep05img007Esse problema indica que as instituições que oferecem cursos técnicos também teriam de apresentar aulas de reforço justamente para os alunos conseguirem acompanhar ou aproveitar melhor os cursos oferecidos. “Esses resultados não só impactam fortemente a aprendizagem dos alunos no âmbito da educação básica como seu prosseguimento nos estudos, seja na formação técnica profissional – de forma concomitante ou subsequente –, em curso superior de tecnologia, ou em um bacharelado. Isto é particularmente preocupante no momento histórico em que vivemos, no qual o conhecimento é cada vez mais o principal elemento que garante as vantagens competitivas de um país”, afirma Denise Rocha no estudo.

Gilson Brandão, professor desde 1999 e atual supervisor técnico de cursos do Senai em Taguatinga, concorda com a  professora mineira. Ele afirma que este é um problema absolutamente comum. Brandão conta que, em diversos casos, foi obrigado a prestar aulas básicas de matemática durante os cursos técnicos que ministra, justamente pela falta de base de conhecimento de alguns de seus alunos. “Isso é uma realidade geral. Até em aulas em curso superior, que também ministro, tenho esse problema”, revela. “Os professores acabam tendo que ensinar o básico, como uma simples regra de três”, complementa.

Uma iniciativa que começa a dar seus primeiros resultados resolvendo alguns dos gargalos do mercado de trabalho nacional é justamente o Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), conforme analisam Maria Martha Cassiolato e Ronaldo Coutinho Garcia, técnicos de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest) do Ipea, no texto Pronatec: um exemplo de organização de novos arranjos institucionais para ampliar o acesso à educação profissional.

rd82rep05img008O Pronatec é um programa de expansão de educação profissional instituído pelo governo federal em 2011. Na prática, a iniciativa visa a buscar  uma integração entre a qualificação profissional e também elevar a sua escolaridade. Por isso, ele engloba, em uma grande rede de atuação, não somente institutos de tecnologia, como vários ministérios, a exemplo dos da Educação, Desenvolvimento Social, Trabalho e Emprego, além de Serviços Nacionais de Aprendizagem (o sistema S, como o Sesi e o Senai) e redes estaduais de ensino. Assim, ao mesmo tempo, o sistema de ensino consegue não somente dotar o aluno de capacidades cognitivas para uma graduação, como o prepara para o ensino técnico, diminuindo problemas relacionados ao baixo nível dos discentes.

Pronatec é um programa
de expansão de educação
profissional instituído
pela presidenta Dilma
Rousseff em 2011

Na prática, conforme os pesquisadores, o Pronatec é um programa bem abrangente que busca enfrentar um problema antigo: a baixa escolaridade aliada a problemas de qualificação profissional de uma parcela majoritária dos brasileiros. E um fato que tem surpreendido os pesquisadores é o sucesso e a grande adesão ao programa. Entre 2011, quando foi criado, e 2012, o número de matrículas cresceu de 893 mil para 1,6 milhão.

Mas, especificamente dentro da área ligada à tecnologia, o Brasil vive hoje uma demanda grande por profissionais da área técnica. Essa demanda foi puxada pelo crescimento econômico durante os anos 1990 e 2000. Entre 1996 e 2010, conforme as Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país cresceu a uma taxa média de 3,1%.

Segundo estimativas dos pesquisadores no artigo A demanda por engenheiros e profissionais afins no mercado de trabalho formal, Aguinaldo Nogueira Maciente e Paulo Meyer, técnicos de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Setoriais de Inovação, Regulação e Infraestrutura (Diset) do Ipea, a demanda por engenheiros no Brasil pode estar entre 600 mil e 1,4 milhão de profissionais e tem sido mais forte na área de petróleo e gás.

No entanto, houve também um crescimento expressivo de cursos de graduação nas áreas de engenharia e afins nos últimos anos. Entre 2000 e 2012, o número de formandos nos cursos de engenharia, produção e construção cresceu 200%, conforme estudo recente de Divonzir Arthur Gusso, em parceira com Paulo Meyer. Por isso, parte dessa demanda reprimida tem sido equacionada. Tanto que o estoque de engenheiros e profissionais afins (gente com graduação à espera de vagas no mercado de trabalho) pode chegar a até 2,3 milhões de pessoas em um cenário otimista, ou chegar a 1,6 milhão, em um cenário de congelamento de ingresso nos cursos de graduação, como ocorreu em 2009. “Quando nós fizemos as projeções, não havia cenário de escassez (de engenheiros), a não ser com um cenário de crescimento de 4% a 5% ao ano. Esse problema não está sendo crucial”, revela Paulo Meyer.

rd82rep05img009Mas o crescimento econômico brasileiro também traz outras necessidades. Artigo dos pesquisadores Joilson Dias e Maria Helena Ambrosio Dias (Universidade Estadual de Maringá), intitulado Demanda por capital humano qualificado no Brasil: os efeitos da estrutura econômica e social, revela uma tendência de alterações de demandas de determinados profissionais por conta do crescimento de classes sociais. Conforme os pesquisadores, o crescimento de 1% de cada classe social pode elevar uma demanda de trabalhadores mais qualificados (aqueles com mais de 11 anos de estudo) da ordem de 8,44% e de 7,99% dos trabalhadores com menos de 11 anos de estudo. Segundo os autores, “estados com maior participação da classe social média possuem maior crescimento de demanda por capital humano qualificado”, principalmente no setor de serviços, diretamente utilizado pela classe média brasileira.

Já Renato Pedrosa, do Departamento de Política Científica e Tecnológica – Instituto de Geociências, Universidade de Campinas (Unicamp), no artigo Educação, crescimento econômico e produtividade do trabalho, mostra que a produtividade do trabalho na economia brasileira, mesmo com crescimento econômico e de demanda, ainda é considerada baixa. Mais baixa ainda no setor de serviços. Tanto que os valores de produtividade aferidos em 2010 são similares aos dos anos 1980.

Entre 2000 e 2012, o
número de formandos
nos cursos de engenharia,
produção e construção
cresceu 200%

O pesquisador aponta que em países da América Latina, Ásia, do Leste Europeu e do norte da África e do Oriente Médio o desempenho escolar está diretamente associado ao nível de produtividade de trabalho. Pelas análises do professor, cada 100 pontos obtidos pelos estudantes no Pisa (Programme for International Student Assessment - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, em tradução livre) acarretariam um crescimento da ordem de 2.2 pontos percentuais no Produto Interno Bruto (PIB) nacional. “Tanto do ponto de vista do crescimento econômico como do nível da produtividade do trabalho, é essencial que o Brasil melhore a qualidade da sua educação básica”, afirma o professor no estudo.

Os estudos mostram que o Brasil tem imensos desafios e problemas a enfrentar e os diagnósticos estão postos, faltando apenas ações e políticas públicas concretas para transformar o potencial econômico brasileiro em força motriz de desenvolvimento e competitividade.

 
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