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Melhores práticas - Lixo vira adubo nas mãos de produtores rurais

2014 . Ano 11 . Edição 82 - 31/12/2014

Rio Branco é hoje um exemplo de como tratar o lixo de pequenas e médias cidades em sintonia com o desenvolvimento econômico. Toneladas de entulho, que antes eram um problema para a cidade, passaram a ser uma solução para a geração de renda da população e, principalmente, para os agricultores.

Mas nem sempre foi assim. Até 2010, todo lixo produzido pelos mais de 300 mil moradores da capital do Acre era despejado em um lixão e virava chorume não tratado e gases tóxicos. Com o lixo iam embora também toneladas de restos de frutas, vegetais, sementes e podas de árvores, essenciais para a produção de adubos orgânicos.

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Mário Fadell, secretário municipal de Agricultura e Floresta de 
Rio Branco, Acre 

A situação começou a mudar com a criação da Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos de Rio Branco (UTRE) em 2009. Hoje, o aterro sanitário recebe e trata diariamente cerca de 230 toneladas de lixo domiciliar, 1,6 tonelada de resíduos da área da saúde e uma tonelada de material reciclável – entre papel, plástico, metal e vidro – além de podas de árvores, varrição de ruas e resíduos comerciais.

Do total, em média, 60% dos resíduos coletados na região são orgânicos. Antes destinadas ao lixo, as sobras de feiras e mercados, bem como o material proveniente de podas realizadas pela prefeitura e todo material identificado como resíduo orgânico, agora vão para a unidade de compostagem na UTRE e são transformados em adubos eficientes para os agricultores conseguirem produzir e prosperar, mesmo em um solo pobre em nutrientes. Com área de 2.580m², a unidade de compostagem da UTRE tem capacidade de processar até 30 toneladas ao mês de material orgânico. No início, o composto era distribuído para pequenos produtores fomentarem a produção de hortaliças no município e para hortas comunitárias, incentivando assim práticas de economia solidária.

Até 2010, todo lixo produzido
pelos mais de 300 mil
moradores da capital do
Acre era despejado em um
lixão e virava chorume não
tratado e gases tóxicos

No entanto, com a alta demanda pelos compostos e pouca mão de obra, os produtores foram convidados a aprender as técnicas de produção e a fabricar o adubo. Em 2011, eles passaram a produzir esse material orgânico dentro da UTRE para depois usar em suas plantações. De lá pra cá, mais de 150 produtores passaram pelo treinamento e cerca 500 famílias já recebem o composto.

Até agora já foram produzidas mais de 500 toneladas de adubo orgânico para os produtores de hortaliças dos polos agroflorestais, instituições sociais e hortas comunitárias, além do atendimento de demandas pontuais, como o Projeto Hortas Escolares, da Secretaria de Meio Ambiente. O secretário municipal de Agricultura e Floresta (Safra), Mario Jorge da Silva Fadell, explica que os produtores são treinados uma a duas vezes por semana e acompanham um ciclo de produção do adubo, que dura de três a quatro meses e meio.

Fadell diz que os agricultores recebem primeiro uma capacitação teórica, depois dão início à montagem das leiras (canteiros), onde é feita a trituração dos resíduos, como restos de frutas e cascas, sementes e podas de árvore. Os produtores participam, assim, de todas as etapas do processo, desde a produção das leiras, a trituração do material, o revolvimento das leiras, a maturação e o ajuste da granulometria até o ensacamento.

Depois de pronto, cerca de 70% do composto produzido é distribuído para os produtores-alunos e 30% enviados para a utilização em jardins públicos e no projeto Hortas Escolares, coordenado pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e assistido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semeia) e nas hortas comunitárias, gerenciadas pela Coordenadoria do Trabalho e Economia Solidária (Comtes). 

Piedade/Ipea
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Equipes do Ipea e da Prefeitura de Rio Branco

As famílias de produtores são selecionadas entre os moradores de dois polos agroflorestais, Geraldo Fleming e Custódio Freire. Segundo os pesquisadores do Ipea Albino Rodrigues Alvarez e Maria da Piedade Moraes, esses produtores têm em comum um histórico de luta pela posse de um lote de terra. Originários de antigas famílias de seringueiros e agricultores, eles foram deslocados para a periferia de Rio Branco nos anos 1990, habitavam assentamentos precários, vivendo de subempregos, e há 13 anos foram transferidos para essa região do cinturão verde de Rio Branco, a cerca de 20 a 30 km do centro da cidade.

rd82mel-prat01img004Mais do que fomentar o cultivo de hortaliças e a economia solidária, a produção do composto ajuda na redução de resíduos sólidos, diminuindo a poluição ambiental. Entre outros benefícios, os produtores adquirem conhecimento e passam a dominar a técnica de produção do adubo, o que reduz o custo de produção de hortaliças.

Com custo menor, produzem mais e aumentam a renda com a comercialização de hortaliças e a venda do adubo, hoje cotado a R$4,00/kg. Os alimentos produzidos com a ajuda dos compostos são vendidos em feiras de bairro e para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), para uso por entidades da rede de assistência social – restaurantes populares, cozinhas comunitárias, bancos de alimentos –, o que garante a aquisição de parte da produção.

De tão eficiente, o projeto de produção de compostagem orgânica da Unidade de Tratamento de Resíduos Sólidos foi uma das 30 práticas vencedoras da 5ª edição do Prêmio Objetivos do Milênio (ODM) Brasil, em 2014. O prêmio incentiva ações, programas e projetos que contribuem efetivamente para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. A  coordenação técnica do Prêmio é de responsabilidade do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). A criação da unidade, gerida pela Secretaria Municipal de Agricultura e Floresta (Safra), antecipou-se às exigências da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305 de 2010).

Para o economista Albino Rodrigues, a produção do composto orgânico é essencial, pois, diferente do que muitas pessoas pensam, o solo da Amazônia é pobre em nutrientes e deve ser suplementado com matéria orgânica, que, em geral, precisa ser comprada. “Muitas populações não têm acesso a legumes e verduras, que demandam terra fértil, por falta de suplementação na terra. A prática, então, acaba por baratear a produção. Não necessitando comprar centenas de quilos de compostos orgânicos todo ano, a economia feita permite melhorar a alimentação de forma significativa. O aterro de Rio Branco é um modelo para a região Norte, tanto pela questão técnica como por essa iniciativa de gestão integrada”, explica.

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Equipes do Ipea e da Secretaria Municipal de Agricultura e Floresta de
Rio Branco conversam com agricultores no Ceasa

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Elza Rodrigues e Jair Mota manejam
o composto orgânico na Unidade de
tratamento de Resíduos Sólidos

 Segundo ele, o composto gerado na UTRE tem qualidade superior à das outras opções e ainda propicia, de forma reconhecida tanto pelas autoridades como pelos assentados, oportunidades de socialização pouco frequentes.

Maria da Piedade Morais diz que um dos aspectos mais interessantes da prática é a elevada interação e sinergia entre os agricultores que participam do projeto e os representantes da prefeitura que coordenam a prática. “Todos se conhecem e se respeitam e se auxiliam mutuamente. Dá gosto de ver o entusiasmo dos agricultores ao exibirem suas hortas de verduras e ervas aromáticas, cuja produtividade aumentou muito em decorrência do uso do fertilizante orgânico.”

Outro ponto positivo citado por ela é o grau de companheirismo entre os agricultores e a coesão social da comunidade, além da integração dos diversos programas governamentais que atuam simultaneamente junto aos agricultores. Para quem trabalhou duro na produção de um composto feito de lixo orgânico e que fosse eficiente para o solo amazonense, ganhar o prêmio foi uma satisfação única.

O secretário Mario Jorge Fadell considera o prêmio o reconhecimento de uma boa ideia que deu certo. “Ficamos impressionados como uma prática tão simples poderia gerar um resultado tão bom. E pensar que não fizemos nada de tão extraordinário assim, nós só pensamos formas de como resolver problemas comuns.”

Longe de se acomodar com o reconhecimento, o secretário diz que há  um projeto a ser desenvolvido ainda este ano para que mais agricultores se apropriem do conhecimento e aprendam a produzir o composto orgânico em suas próprias terras. Segundo o engenheiro agrônomo e diretor de produção agrícola da Secretaria Municipal de Agricultura e Floresta, Jorge Rebouças, muitos agricultores já se utilizam dessas técnicas e conseguem produzir o composto em sua propriedade.

OUTROS PROJETOS SUSTENTÁVEIS DA UTRE Além da compostagem orgânica, a UTRE desenvolve outros projetos de aproveitamento dos resíduos sólidos. A coleta seletiva abrange 95% da zona urbana e rural da cidade. O serviço é realizado pela prefeitura na modalidade porta a porta, em que um caminhão atende 43 bairros e conjuntos habitacionais de Rio Branco. Além disso, há 60 pontos de entrega voluntária de resíduos sólidos. A unidade também dispõe de galpão para recebimento de pneus; depósito para composto beneficiado; usina de triagem e reciclagem; galpão da unidade de compostagem; pátio de compostagem; britador de resíduos da construção civil; células de disposição final de resíduos sólidos (aterro sanitário); vala séptica para animais mortos; unidade de tratamento de resíduos de saúde e poços de monitoramento do lençol freático.

Dos 80 hectares, a UTRE utiliza apenas 20. A área restante, de 60 hectares, foi transformada em zona de compensação ambiental com trilhas ecológicas e equipamentos de educação e conscientização ambiental. Cerca de duas mil mudas de espécies nativas foram plantadas como meio de recuperar a floresta e proteger nascentes na área da UTRE. O gerenciamento da UTRE é feito em conjunto pelas secretarias municipais de Serviços Urbanos, de Meio Ambiente, de Agricultura e Floresta e a Coordenadoria Municipal do Trabalho e Economia Solidária.

CURIOSIDADE Cada leira, depois de passar pela fase de maturação, chega a produzir uma tonelada de composto orgânico, quantidade suficiente para adubar até duas Casas de Vegetação, mantendo o solo fértil por um ano e cobrindo seis safras de hortaliças.

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Antônio Carlos do Nascimento, produtor rural, no Polo
Agroindustrial Gustavo Fleming 

 

 
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