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Decifrando alguns paradoxos do mercado de trabalho brasileiro

2015 . Ano 12 . Edição 83 - 19/06/2015


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Carlos Henrique L . Corseuil

 

Em geral, a evolução na taxa de desemprego vai na direção contrária à dos indicadores do nível de atividade, tais como o PIB. Foi assim entre 2004 e 2011, quando o PIB teve uma tendência de crescimento expressiva para os padrões brasileiros e a taxa de desemprego apresentava quedas sistemáticas de um ano para o outro. No entanto, de 2012 a 2014 o crescimento do PIB foi bem menor, mas ainda assim a taxa de desemprego se manteve em patamares historicamente baixos. Somente agora, entre o final de 2014 e o início de 2015, estamos presenciando registros de aumentos das taxas de desemprego quando avaliamos num intervalo de 12 meses. Mesmo assim, as taxas de desemprego divulgadas nos últimos meses ainda podem ser consideradas baixas numa perspectiva histórica.

Nesse contexto a pergunta que se coloca com frequência no debate atual sobre o mercado de trabalho brasileiro é: como o desemprego no Brasil se mantém em patamares historicamente baixos? A situação é aparentemente paradoxal, uma vez que um menor dinamismo da economia pode ser associado a pelo menos um de dois movimentos: i) um aumento dos fluxos de pessoas originalmente ocupadas para o desemprego, e/ou ii) uma diminuição no fluxo de pessoas do desemprego para a ocupação.

Há que se considerar também os indivíduos que não participam do mercado de trabalho (também chamados de inativos). Esses indivíduos correspondem àqueles sem ocupação e que não estão à procura de uma. Uma análise imediata dos números revela que o desemprego manteve-se baixo justamente porque a taxa de participação caiu. Traduzindo: menos pessoas sem ocupação estão procurando uma. Ou seja, relativamente menos pessoas sem ocupação são classificadas como desempregadas e mais são classificadas como não participantes ou inativas.

O fato de as pessoas não estarem procurando uma ocupação parece refletir um desinteresse em continuar no mercado de trabalho. Isso nos leva a uma segunda pergunta paradoxal: como conciliar esse suposto desinteresse com o fato de os rendimentos do trabalho (em termos reais) permanecerem em um patamar elevado para os nossos padrões? Logo, é preciso aprofundar um pouco mais a análise para termos um diagnóstico mais abrangente do mercado de trabalho. Faremos isso a seguir, em três etapas.

Em primeiro lugar, é preciso detalhar um pouco mais a classificação de um indivíduo sem ocupação em desempregado ou inativo. Isso depende de o indivíduo ter tomado alguma atitude que seja considerada como busca por emprego em um dado período de referência (vamos supor 30 dias). A segunda etapa do diagnóstico aqui proposto faz uso da seguinte suposição: os indivíduos tendem a concentrar suas ações de busca por emprego no início do período em que ficam sem ocupação. Nesse cenário, quanto mais tempo demorarem a retornar ao emprego, maior será a probabilidade de serem classificados como inativos em vez de desempregados, dado que maior será a probabilidade de serem entrevistados tendo como referência períodos em que não tomaram providências caracterizadas como busca por emprego.

Por fim, a literatura nos mostra que a margem de ajuste mais sensível ao ciclo econômico é a da criação de postos de trabalho e não a da destruição de postos de trabalho. Sendo assim, a situação atual no Brasil seria mais bem descrita por uma diminuição no fluxo de pessoas não ocupadas para a ocupação. Com a maior retenção das pessoas na condição de não ocupadas, cresce a duração média do tempo que os indivíduos passam nessa situação.

Juntando as três etapas mencionadas, teríamos o seguinte encadeamento de fatos que nos leva a um diagnóstico mais abrangente. A dinâmica macroeconômica de baixo crescimento diminuiu o fluxo de contratações e isso leva os indivíduos a permanecerem mais tempo sem emprego, o que, por sua vez, torna-os mais propensos a serem classificados como inativos, mesmo almejando a volta ao emprego. Note-se que, ao permitir que os indivíduos continuem almejando a volta ao emprego, desfaz-se a contradição entre aumento relativo da inatividade (ou queda da taxa de participação) e manutenção dos salários em um patamar historicamente alto.

Nos últimos meses vemos um acirramento na tendência de queda no nível de ocupação acompanhada de tendência de queda nos salários e de aumento no desemprego. Pode ser que o ajuste no emprego esteja mudando de um cenário mais concentrado na diminuição nas contratações para outro em que o aumento das separações passa a ser preponderante, tornando o cenário do mercado de trabalho brasileiro um tanto mais preocupante.

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Carlos Henrique L . Corseuil  é diretor-substituto de Estudos e Políticas Sociais do Ipea

 
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