resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
No clima da Caatinga

2015 . Ano 12 . Edição 84 - 16/10/2015

rd84rep07img001

Experiência pioneira tem transformado bioma tipicamente brasileiro em uma terra de geração de empregos, preservando o meio ambiente

Renata de Paula

Nas palavras de Luiz Gonzaga, o sertão foi definido na canção Asa Branca, de 1947. A música retrata a seca extrema do semiárido brasileiro que faz até mesmo a asa branca migrar da região. O Nordeste brasileiro tem como paisagem predominante o sertão e a Caatinga, a região semiárida mais rica em biodiversidade do mundo, uma das mais populosas, mas também o bioma brasileiro mais ameaçado. Uma realidade que começa a mudar.

Divulgação/Associação Caatinga
rd84rep07img002

Em uma das maiores cidades do interior do Ceará, Crateús, a 400 km de Fortaleza, uma iniciativa surgiu para mudar esse estereótipo de infertilidade da Caatinga. Antes visto como improdutivo pelos sertanejos, o bioma ganhou ali um outro olhar. Graças à Associação Caatinga, que nasceu com a criação da Reserva Natural Serra das Almas, e ao projeto No Clima da Caatinga, os crateuenses passaram a ver o sertão como uma terra de oportunidade, de geração de renda. E tudo vinculado à preservação ambiental, provando que aquela paisagem vista como pobre e infértil podia valer muito mais se fosse preservada.

A Caatinga é o único bioma exclusivamente brasileiro e ocupa cerca de 10% do território nacional. Hoje, 45% da área do bioma está alterada e somente 1% é protegido legalmente por unidades de conservação de proteção integral, segundo dados do Relatório de Monitoramento do Desmatamento na Caatinga. Nesse contexto, o projeto No Clima da Caatinga surgiu, em 2008, com o intuito de preservar e valorizar esse bioma tão ameaçado.

Divulgação/Associação Caatinga
rd84rep07img003
Atividades de Conservação – Viveiro de mudas na Reserva
Natural Serra das Almas

Tudo começou com a criação da Reserva Natural da Serra das Almas, uma área de 6.146 hectares, localizada entre os estados do Ceará e do Piauí, adquirida com os recursos da doação de uma fundação norte-americana ligada à empresa Johnson and Johnson.

Em 1935 o dono da empresa, Herbert F. Johnson Jr., desembarcou em Fortaleza para conhecer melhor a carnaúba, palmeira nativa do Nordeste brasileiro, produtora do pó cerífero, matéria-prima da cera, um dos principais produtos da S. C. Johnson & Son, Inc. Ele queria descobrir novos palmeirais de carnaúba e determinar se as plantações existentes eram grandes o suficiente para atender à futura demanda de cera da companhia.

A viagem rendeu frutos à empresa e trouxe também uma forte afeição da família pela região. Em 1937, foi inaugurada uma fábrica de processamento da carnaúba em Fortaleza e, em 1938, criada uma estação experimental (Fazenda Raposa) para a pesquisa da carnaúba, que posteriormente foi doada à Escola de Agronomia da Universidade do Ceará.

Divulgação/Associação Caatinga
rd84rep07img004 
Moradora de Crateús testa o Forno Solar Ecoeficiente

Anos depois, já em 1998, os herdeiros resolveram homenagear essa relação com a aquisição de uma área da Caatinga e sua doação à recém-formada Associação Caatinga, entidade constituída para ajudar na preservação da região, onde já havia uma comunidade de cerca 7.500 habitantes.

A função da associação era ajudar a população a entender a importância da preservação do local para que, assim, a reserva fosse vista como aliada e não como empecilho para o desenvolvimento. O plano se concretizou definitivamente com o projeto No Clima da Caatinga, criado dez anos depois, em 2008. Com iniciativas de conscientização e ações sustentáveis geradoras de renda, a população de uma das cidades mais pobres do país passou a ver os recursos naturais preservados como bens preciosos.

Segundo o coordenador geral da associação, o biólogo Rodrigo Castro, a instituição desenvolve projetos de conservação de áreas naturais, restauração florestal, recuperação de nascentes, disseminação de tecnologias sustentáveis, capacitação para o uso sustentável dos recursos naturais e promoção da educação ambiental, com visitas de escolas e universidades à reserva.

rd84rep07img005
O projeto No Clima da Caatinga
surgiu com o intuito de preservar
e valorizar este bioma
tão ameaçado

Como benefícios para a comunidade, as ações incluem a construção de fogões a lenha ecoeficientes, que utilizam uma quantidade menor de lenha nas residências, com grande redução na quantidade de fuligem (altamente tóxica) no interior das casas; construção de fornos solares para poupar o uso da lenha, cursos de técnicas de manejo adequado ao solo e controle de queimadas, melhorando a produção com a diminuição da erosão do solo, aumento da fertilidade natural e redução dos desmatamentos desnecessários, diminuindo, assim, os incêndios florestais; a instalação de composteiras nas comunidades para a produção e comercialização de composto orgânico, para que os resíduos, antes queimados ou enterrados, passem a gerar renda para associados da cooperativa de recicladores; capacitação para manejo da jandaíra para a produção de mel a partir de abelhas nativas. Essas abelhas produzem um mel altamente valorizado e sua comercialização gera uma renda extra para os moradores.

Rodrigo explica que as famílias são beneficiadas com essas ações a partir do comprometimento com a preservação ambiental, ao assinarem um termo de compromisso. “É feito também um acompanhamento e monitoramento por meio de reuniões mensais com os coordenadores da área do projeto, em que são avaliados o cumprimento dos prazos, metas e os recursos financeiros do projeto”.

Os técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea Albino Rodrigues Alvarez e Carlos Henrique Ribeiro de Carvalho visitaram a reserva, em dezembro de 2013, e, durante três dias, sentiram na pele o clima da Caatinga. Albino conta que ali eles puderam vivenciar a difícil realidade do sertanejo, que convive com água escassa e um clima quente e seco durante todo o ano.

Segundo ele, embora as iniciativas possam ser vistas como pequenas, na região elas são de muita valia. “A vida no sertão é muito sacrificada, onde viver é quase que aguentar. Essas técnicas acabam aumentando a renda das pessoas e, como a maioria vive em um sistema quase de subsistência, ali isso faz muita diferença”, conta.

Albino diz ainda que a prática se diferencia muito de outras que ele já visitou, em que os problemas sociais são o ponto central e a conservação ambiental vem em segundo plano. “Essa surge com uma motivação ambiental e as outras questões complementam isso, quase na lógica dos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável)”, completa.

João Viana/Ipea
rd84rep07img008
Carlos Henrique Carvalho,
técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea

Carlos Henrique ressalta que o ponto alto do projeto é, sem dúvida,a preservação da Caatinga, a valorização para o Brasil e para o resto do mundo de um bioma visto como vilão e improdutivo. “A Caatinga muitas vezes é associada a um aspecto negativo, de pobreza, falta de água e desertificação. O projeto mostra o outro lado, pouco conhecido, e contribui para evitar o êxodo rural”, diz. Por conseguir aliar preservação ambiental e geração de renda de forma tão positiva, a prática coleciona prêmios. Um deles é o Prêmio ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) Brasil, o qual incentiva ações, programas e projetos que contribuem efetivamente para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

rd84rep07img009

A coordenação técnica do prêmio conta com a participação do Ipea e da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). Segundo Rodrigo, ganhar o prêmio foi uma sensação incrível. “Sei que somos uma gota d’agua em um universo tão grande de desmatamento, mas já somos um exemplo, uma inspiração”.

O projeto vai para o sétimo ano e, no fim de 2015, será julgado com possibilidade de manter o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental. É importante ressaltar, no entanto, que, independentemente do patrocínio, a Reserva Natural Serra das Almas será preservada.

As ações desenvolvidas no projeto contribuem para a redução da emissão de CO2, principal responsável pelo aquecimento global, por meio da manutenção da reserva e das áreas conservadas de seu entorno. As ações de conservação do projeto ajudaram a evitar emissões de cerca de 152 mil toneladas de CO2 em 2011 e 2012.

Campanha definiu o mascote

rd84rep07img007

Outra bandeira defendida pela Associação Caatinga e que merece destaque é a defesa do tatu-bola, animal encontrado na Caatinga e em algumas partes do Cerrado e praticamente, extinto, em razão do desmatamento e da caça predatória.

Como forma de ajudar na luta contra a extinção, a associação aproveitou a Copa do Mundo no Brasil para uma grande jogada de marketing. Redigiu um documento à Fifa, ao Comitê Organizador Local e ao Ministério do Esporte sugerindo o tatu-bola para símbolo da competição. Paralelamente, fez uma grande campanha pela internet pedindo apoio à ideia. A campanha em defesa do tatu-bola ganhou as redes sociais e se tornou um grande sucesso. Após uma votação popular pela internet, que contou com a participação de 1,7 milhão de pessoas, o mascote foi batizado de “Fuleco”, palavra que une “futebol” e “ecologia”.

O desenho foi escolhido pela Fifa e pelo Comitê Organizador Local da Copa após a análise de 47 propostas de seis agências de publicidade brasileiras. Depois de extensas pesquisas, o desenho do tatu-bola, criado pela 100% Design, foi identificado como o favorito do principal público-alvo: crianças de cinco a 12 anos.

 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334