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Perfil - Arquiteto, político e professor

2016 . Ano 13 . Edição 87 - 17/06/2016

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João Batista Vilanova Artigas (1915-1985) foi um dos mais importantes arquitetos brasileiros do século XX. Militante comunista e ativo participante da vida cultural paulista, foi um dos fundadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Afastado da Universidade pela ditadura, em 1969, exilou-se no Uruguai. Sua trajetória funde obras marcantes, uma concepção inovadora de ensino e um importante material teórico.

A partir do convite da Desafios do Desenvolvimento para apresentar um perfil do arquiteto, decidi – e talvez não seria apto para fazer de outra forma – elaborá-lo a partir de minha experiência desde os bancos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (FAUUSP), quando tive oportunidade de conhecer o professor João Batista Vilanova Artigas.

Em 1979, o momento para nós, engajados no movimento estudantil pelas liberdades democráticas, era também o da luta pela Anistia. A faculdade estava imersa em discussões políticas, como toda a sociedade de então. A FAU, a exemplo de diversas unidades da USP, havia sido vitimada pelo golpe de 1964.

Em 1969, os professores Artigas (autor do prédio da faculdade, inaugurado no mesmo ano), Paulo Mendes da Rocha e Jan Maitrejean foram afastados compulsoriamente de suas atividades. Dez anos depois, nós estudantes reivindicávamos a reintegração imediata dos afastados. Naquele momento, além de uma conquista democrática, a volta significava a retomada do eixo principal da escola – o “projeto”, conforme proposta de ensino de Artigas, materializada no novo edifício.

POLIVALENTE

Artigas foi um artista, um intelectual, um político e um professor como poucos. Formado engenheiro-arquiteto pela Escola Politécnica da USP, em 1937, foi um dos organizadores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, desde o seu início, em 1948. A FAU passou a ocupar a Vila Penteado, antiga residência da família de mesmo nome, na Rua Maranhão, centro de São Paulo. A mansão fora doada à Universidade para abrigar o curso recém-criado.

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A origem da FAU, a partir dos engenheiros-arquitetos da Escola Politécnica, é definidora de sua identidade– uma visão humanista da técnica.

A origem da escola de arquitetura a partir dos engenheiros da Politécnica foi definitiva na estruturação curricular e nas características dos profissionais de lá egressos. No binômio arte+técnica que define a arquitetura, o caráter humanista da Escola estava aí definido.

NA BASE, O PROJETO

A proposta de ensino elaborada em 1962 por Vilanova Artigas estruturava a faculdade em três departamentos: o de tecnologia, o de história e o de projeto.

A proposta de uma formação globalizante considerava o “projeto” como eixo do ensino. Essa estrutura foi confirmada em 1969 em um fórum interno, quando da mudança para o novo prédio. A Escola, que até então recebia 50 alunos por turma, passou a abrigar 150. A proposta de Artigas para estruturação do ensino de arquitetura na FAUUSP em 1962 é absolutamente integrada à proposta do projeto de arquitetura do novo edifício inaugurado em 1969, na Cidade Universitária. O prédio da FAU é o grande exemplo da integridade da obra de Artigas. Esta funde linguagem, matéria e discurso político.

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O projeto da Rodoviária de Jau (1973) é um exemplo
da liberdade no alcance técnico da solução estrutural que
transforma as peças tradicionais da estrutura – o pilar e a
viga – absolutamente integrada ao programa e à cidade

Artigas construiu uma “escola”. Entre aspas para remeter ao sentido original da palavra. Uma “escola” de pensamento, uma maneira de pensar arquitetura, inovadora, livre, humanista e comprometida com o futuro do País. Poucos têm a capacidade e a grandeza de se dedicar à formação de novas gerações. Formação em uma ótica global e não apenas instrumental.

Enquanto artista e pensador, Artigas viu sempre nos jovens uma esperança de futuro e muitas gerações de arquitetos brasileiros foram formadas por ele.

No prédio da FAUUSP vemos claramente a coerência entre pensamento e materialização. Uma escola não apenas como prédio, mas uma atitude humanista na formação dos jovens, uma linguagem com léxico próprio e apoiada na arte e na técnica, com uma visão civilizatória e compromissos sociais claros.

ENGAJAMENTO POLÍTICO

A sua compreensão da profissão é fruto da formação como intelectual, artista e também de seu engajamento político. A linguagem enquanto estruturação do conhecimento faz da arquitetura de Artigas uma forma peculiar de conhecimento e transformação do mundo, entre a política, a técnica e a arte. A partir dessa afirmação, entende-se a proposta de formação globalizante da escola de arquitetura de Artigas, baseada na liberdade de pensamento como condição e ponto de partida. Se o prédio da FAU é um modelo de integração entre concepção e solução de projeto, o projeto da Rodoviária de Jaú (1973), tão coerente quanto, é um exemplo da liberdade. Liberdade no alcance técnico da solução estrutural que transforma as peças tradicionais da estrutura – o pilar e a viga – absolutamente integrada ao programa e à cidade. A constante busca por novas soluções técnicas, articuladas à construção de um discurso artístico e fundamentalmente comprometido, está presente em todos os seus projetos.

LEGADO

A definição de um perfil desse intelectual múltiplo não passa ao largo de sua obra. A FAU é política. Lindamente política. A Rodoviária de Jaú é livre. Politicamente livre na cidade. A casa Elza Berquó (1967) é um discurso contemporâneo da arte e da vida em família. E assim poderíamos percorrer o vasto legado de sua obra. Se o geógrafo Milton Santos (1926 – 2001) afirmou o caráter totalizante do território em seu texto O retorno do território (1992), Artigas atribui a mesma carga íntegra ao projeto, no texto O desenho (1968).

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A casa Elza Berquó (1967) é um discurso contemporâneo da arte
e da vida em família

Sua atenção ao caráter tectônico da arquitetura, a partir de sua formação de politécnico, está presente em todos os seus projetos, imprimindo significado às construções e sempre atento à realidade do País. Chegou a abrir uma construtora que funcionava em paralelo ao seu escritório.

No ano de 2015, comemoramos o centenário do arquiteto. Exposições, filme e publicações foram lançados. O sucesso de público dos eventos demonstrou a atualidade de suas proposições. Pensamento este que foi truncado e interrompido violentamente durante a ditadura militar.

No texto Arquitetura e Cultura Nacional (1959), Artigas coloca a arquitetura como cultura em um significado bastante próprio e definido, diferente dos rumos a que assistimos nas últimas décadas. A proposição da arquitetura inserida na produção do território nacional e assim desenhando as intervenções humanas pelo País é o sentido de cultura na visão de Artigas. A busca de uma atitude sustentável diante da ocupação do território já estava presente em seu pensamento há 50 anos.

O afastamento compulsório do professor e o intencional rompimento da cena nacional desta maneira de pensar marcaram o desenvolvimento urbano nas décadas de maior crescimento das cidades. As urbes brasileiras abandonaram a visão do espaço público e ficaram nas mãos de interesses imediatos, gerando a situação que vivemos atualmente.

Hoje, a busca de um caminho que paute o projeto como instrumento do desenvolvimento do País, acurado técnica e democraticamente, significa nos aproximarmos novamente do pensamento de Artigas. A retomada não é apenas formal, o que levaria a soluções maneiristas. O conceito e os processos de produção são o desafio. A inserção da arquitetura como obra de exceção e instrumento de egos é, segundo o pensamento de Artigas, uma estratégia cruel de desenvolvimento. A luta, sob o ponto de vista intelectual, e que exigiu dele sacrifícios pessoais, como o exílio ou mesmo a clandestinidade no próprio País, sempre foi uma luta ao lado do povo brasileiro.

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Artigas na FAUUSP

Artigas participou, desde a década de 1930, da cena cultural paulista. Como estudante, no grupo Santa Helena, como estagiário no escritório de Oswaldo Bratke e no grupo Família Artística Paulista, junto a nomes como Clovis Graciano, Rebolo, Waldemar da Costa e outros.

ANISTIADO NA UNIVERSIDADE

Quando da volta do professor à faculdade, em 1979, após a Anistia, a escola viveu momentos efervescentes e de esperança com o fim da ditadura e a perspectiva de estruturação da democracia no país.

Tendo voltado como simples “auxiliar de ensino”, devido às mudanças da carreira universitária durante seu afastamento compulsório, tratou logo de encontrar seu local na real liderança do pensamento na Escola. Apesar de oficialmente “escanteado”, fez do que era uma disciplina meramente burocrática – Estudo de ProblemasBrasileiros, (imposição pela ditadura nos currículos) – um fórum de avaliação e perspectiva para a realidade brasileira sob os mais diversos aspectos, como a arte, a economia, a política, a mobilidade ou o patrimônio.

A FAU vivia às sextas-feiras, nas aulas de EPB, momentos de reflexão sobre o País. Toda a instituição, e não apenas os alunos de EPB, participava das discussões. A formação de algumas turmas foi extremamente marcada por estes debates, nos quais personalidades do momento nacional eram convidadas a dar o seu depoimento. Gianfrancesco Guarnieri, Severo Gomes e Augusto Boal foram alguns dos convidados, além de arquitetos e políticos.

Apesar da tentativa de isolar e silenciar o pensamento representado por Artigas, ele mostrava, aliado aos estudantes, a sua força.

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A ação da burocracia universitária, em sua recusa de dar a Artigas o seu devido lugar quando da volta à Escola, obrigou-o a prestar um concurso para professor titular e recuperar, dessa maneira, a condição de contrato anterior à cassação. A chamada burocracia, representada por diversos professores de então, recusou-se, em reunião da Congregação, a encaminhar ao Conselho Universitário o título sem concurso. Apesar de consciente da trapaça operada pela burocracia, Artigas prestou o concurso e apresentou neste dia uma das mais fortes defesas já vistas na Escola.

A negação do projeto como instrumento democrático de estruturação do espaço nacional foi, infelizmente e salvo raras exceções, uma constante na Escola após 1969. Essa negação ocupou administrações públicas sucessivas no País e ainda hoje vivemos o afastamento do desenho, do projeto e do planejamento.

A partir de 1970 a “urgência" substituiu o projeto e 75% da rede de cidades brasileiras foram construídos com recursos privados e sem planejamento público.

Resta a afirmação de Artigas quando, em 1985, já adoentado e pouco antes de sua morte, foi indagado sobre o futuro das cidades. A resposta a um jovem estudante foi emocionante. Afirmou que não deveria ser indagado sobre o futuro da cidade, pois neste futuro ele já estaria participando do cosmos de outra maneira. “O desafio é da juventude...”.

Hoje, 30 anos depois, parece que o desafio permanece.

 

 
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