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Cadeias produtivas têm potencial na América do Sul

2016 . Ano 13 . Edição 88 - 23/11/2016

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Pesquisa realizada pelo Ipea, em parceria com a Cepal, revela que complementaridade na região ainda é muito baixa, mas há capacidade de expansão
Da Redação

rd88rep04img006Você procura uma oficina para instalar ar‑condicionado no carro e imagina: “Para quê perder tempo?” Acaba deixando o serviço a cargo do profissional mais próximo de casa, sem se preocupar tanto com o tempo de entrega, o custo e a qualidade. Um pouco mais de pesquisa em outro bairro poderia lhe levar a uma oficina que cobra a metade do preço e tem mais experiência naquela atividade, o que deixa o produto melhor e valoriza o veículo. A analogia é simplista, mas ajuda a ilustrar uma estratégia de atuação internacional ainda pouco observada na América do Sul: a complementaridade produtiva.

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), com o apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), concluiu que a integração das cadeias produtivas no subcontinente ainda é muito incipiente e possui potencial de desenvolvimento. Ou seja, em média, um país sul‑americano, como o Brasil, concentra, internamente, em seu próprio território, grande parte – quando não a totalidade – de um processo produtivo. Em muitos casos, encomendar parte do serviço para o vizinho pode ser a melhor alternativa.

 

Decomposição do valor adicionado total, por país (em %)

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O levantamento inédito da Matriz de Insumo‑Produto da América do Sul – que pode ser encontrado no site do Ipea (www.ipea.gov.br) – revela que o Uruguai e a Bolívia são os países mais integrados da região. No caso uruguaio, 4,97% do valor adicionado no país (PIB) correspondem a produtos provenientes do Brasil e 4,19% de produtos vindos da Argentina. E 88,2%  do valor adicionado correspondem à produção interna, sem participação de outros países. Em relação ao Brasil, 97% do valor adicionado se devem à produção interna.

“Há indícios de complementaridade, menos do que eu desejaria, mas há coisas acontecendo na América do Sul. Há um potencial de complementaridade. Pode‑se aprofundar onde já existe alguma semente. Cabe explorar o potencial de criação dessas cadeias”, afirmou Renato Baumann, técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea e coordenador do projeto. O estudo inclui dez países: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela –, deixando de fora, na América do Sul, somente Suriname, Guiana e Guiana Francesa. 

A tabela na página anterior traz a decomposição do valor adicionado total (PIB), por país, em porcentagem. Por exemplo, observa‑se que, na Argentina, 94% do valor adicionado correspondem à produção interna, sem participação externa. Ao analisar o Brasil, depreende‑se que a integração mais forte na América do Sul se dá com a Argentina (1,2% do valor adicionado) e com o Chile (0,81%). A matriz é formada por 40 setores, sendo 35 de bens e cinco de serviços. Os dados se referem a 2005, último ano para o qual foi possível homogeneizar as informações sobre os dez países, e foram calculados em dólares correntes a preços básicos (sem impostos e subsídios). 

Em um estudo realizado a partir dos dados da Matriz de Insumo‑Produto da América do Sul, a Cepal concluiu que a demanda brasileira por bens intermediários gera, na Argentina, 145 mil empregos. Segundo a análise, os setores mais beneficiados na Argentina com postos de trabalho relacionados à demanda por bens intermediários no Brasil são veículos a motor, reboques e semirreboques, polpa de madeira, papel, prensas e material editorial, têxtil, maquinário e equipamentos (exceto maquinário elétrico). Apenas as exportações argentinas destinadas ao setor automotivo do Brasil impulsionam aproximadamente 10,6 mil empregos no país vizinho.

As exportações da Argentina, para o setor agrícola brasileiro, por sua vez, são responsáveis por cerca de 6.400 postos de trabalho naquele país. Os principais setores beneficiados com esses empregos na Argentina são os de produtos químicos – exceto farmacêuticos –, agricultura e florestal e maquinaria e equipamentos (exceto maquinaria elétrica).

“A matriz revela a origem das compras e das vendas na economia. É um formato contábil de informação relativa a atividades econômicas de um país e retrata as relações econômicas entre setores industriais. Ela permite ver as transações de bens intermediários e finais”, explicou José Durán, pesquisador da Cepal em Santiago.

Divulgação / Ipea
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“Há indícios de
complementaridade, menos
do que eu desejaria, mas há
coisas acontecendo na América
do Sul. Há um potencial
de complementaridade.
Pode‑se aprofundar onde
já existe alguma semente.
Cabe explorar o potencial
de criação dessas cadeias”

Renato Baumann, técnico de
Planejamento e Pesquisa do Ipea

 



 

PANORAMA As exportações dos dez países sul‑americanos impulsionam pouco mais de 25,6 milhões de empregos, mas as exportações intrarregionais (para a própria América do Sul) são responsáveis por 3,89 milhões de postos. Das 25,6 milhões de vagas, 45% estão alocadas no Brasil, 14% no Peru, 9% na Colômbia, 8% na Argentina e 8% na Venezuela. Os demais países somados (Uruguai, Paraguai, Equador, Chile e Bolívia) ficam com 16%. Ainda segundo a análise da Cepal, com base na Matriz de Insumo‑Produto, esses empregos ligados à exportação representam 15,4% do total da população ocupada na América do Sul (menos Guianas e Suriname). No Brasil, eles correspondem a 12,7% do total.

Outra conclusão significativa é a de que o emprego ligado a exportações para a América do Sul tem um peso maior na Bolívia (11% da população ocupada), Paraguai (9%), Uruguai (7%) e Argentina (5%). No Brasil, essa parcela equivale a 1%. “A matriz é uma importante ferramenta para o desenho de políticas públicas. Ela contém informações sobre relações de usos de bens e permite identificar a estrutura vertical de produção compartilhada entre países”, afirmou Durán.

Para o professor Renato Flores, do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que participou do evento de lançamento da Matriz Insumo‑Produto no Ipea, outra constatação a partir da base de dados é que Brasil, Colômbia e Venezuela representam as economias menos integradas regionalmente. “O Brasil não tem, em nenhum dos 40 setores integrantes da matriz, contrapartidas de valor adicionado estrangeiro superiores a 10%”, afirmou.

Na avaliação do professor da FGV, dos 40 setores, 38 têm valor adicionado em razão da participação dos demais nove países sul‑americanos (PIB) inferior a 4%. “Para cada setor de um país, calculamos o quanto do valor adicionado é devido à produção de outros países. Isso é outra medida da integração. Fizemos isso para cada país, para cada um dos setores”, informa.

A Colômbia possui apenas um setor com mais de 10% de valor adicionado por outros países: máquinas e aparelhos elétricos. A Venezuela, por sua vez, tem três setores acima dos 10%: veículos automotivos, reboques e semirreboques, calçados e outros alimentos processados. Por essa metodologia, os países mais integrados da região são Uruguai, Bolívia e Paraguai.

No entanto, quando são estudados somente os cinco setores de serviços, o Brasil apresenta o melhor desempenho da América do Sul em termos de integração. “O maior coeficiente é o do Brasil. É o que tem mais ligações por serviços, o que dá certo respaldo. A matriz é um instrumento de investigação. Ela dá pistas da integração do Brasil como fornecedor e da integração pelos serviços”, acrescentou Flores. Argentina e Uruguai também têm bom desempenho, e os demais países estão menos conectados.

 

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A partir do mapeamento da Matriz de Insumo‑Produto da América do Sul, governos
da região passam a ter subsídios para identificar cadeias produtivas que
podem ser incrementadas, visando à economia de recursos e maior integração

 


ESTRATÉGIA Os benefícios da complementaridade produtiva ganharam destaque, especialmente, desde que a Ásia passou a impulsionar esse tipo de cooperação, tendo a China como epicentro. No começo do ano, o Banco Mundial divulgou um relatório alertando que países do sul da África também poderiam se beneficiar da maior integração regional. “Por esse estudo, notamos que a região poderia atrair mais investimentos e aumentar a quantidade de postos de trabalho não só na indústria e no agronegócio, mas em setores de serviços de alto valor agregado, como transporte e logística, infraestrutura, finanças e serviços profissionais, se tirasse proveito de suas capacidades coletivas para competir globalmente”, afirmou Guang Zhe Chen, diretor do Banco Mundial para África do Sul, Botsuana, Lesoto, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia e Zimbábue.

Acordos recentes de comércio, como a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), anunciada em 2015, elevam a pressão para que o mundo se adapte a um período de novos artifícios destinados a baratear a produção. O TPP prevê o fim ou a redução de até 18 mil tarifas comerciais entre 12 países – Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Estados Unidos, Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Singapura e Vietnã. Para entrar em vigor, o texto precisa ser ratificado até fevereiro de 2018 por, no mínimo, seis países que respondam por, ao menos, 85% da economia do grupo. Nesse caso, Estados Unidos e Japão são essenciais.

No entanto, a construção de cadeias produtivas eficientes não é algo trivial em um mundo onde o protecionismo cresce, onde as commodities não têm mais o peso do século passado e a demanda por diversos produtos cai. E, sobretudo, onde os esforços pela manutenção de postos de trabalho se intensificam. Somem‑se a isso as exigências crescentes por produtos sustentáveis e cuja cadeia atenda a padrões internacionais de condições de trabalho e qualidade, além dos pré‑requisitos de infraestrutura para que o trânsito de peças e produtos funcione a contento: portos, aeroportos, estradas e alfândegas prontos para impedir barreiras à fluidez do comércio.

A partir do mapeamento da Matriz de Insumo‑Produto da América do Sul, governos da região passam a ter subsídios para identificar cadeias produtivas que podem ser incrementadas, visando à economia de recursos e maior integração. O trabalho realizado pelo Ipea e pela Cepal começou em 2013, envolvendo consultores dos 10 países sul‑americanos, técnicos da Cepal em Santiago, técnicos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico em Paris, da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) e da Organização Mundial do Comércio (OMC). “Chegamos a um produto estritamente compatível com a matriz do projeto que é realizado pela OCDE com a metodologia Trade in Value‑Added (Tiva)”, explicou Baumann. “A matriz transcende o âmbito nacional e regional e será, em algum momento, incorporada à matriz mundial. Demos um passo significativo.”

 
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