2004. Ano 1 . Edição 1 - 1/8/2004
"A arte do bem governar o Brasil só adquire real sentido se estiver orientada para a geração de empregos e para a diminuição"
Glauco Arbix
Desafios do Desenvolvimento, como expressão do Ipea e do Pnud, apresenta-se ao público em um momento importante de nossa história recente, em que a economia dá mostras claras de recuperação e crescimento. Ainda que iniciais, os resultados são animadores nas áreas mais sensíveis da atividade produtiva, permitindo-nos olhar com otimismo para o amanhã. Principalmente porque em meio à severidade da crítica - parte integrante e necessária do arsenal dos economistas, acadêmicos e políticos brasileiros - os indicadores de emprego e renda começaram a oscilar positivamente. E ainda melhor, com recuperação do emprego formal. Mesmo com o elevado índice de subocupação por insuficiência de renda - trabalhadores que têm rendimentos por hora inferiores ao salário mínimo por hora - a continuidade do crescimento da ocupação deverá provocar diminuição estrutural da taxa de desemprego. Essa é a questão chave, pois a arte do bem governar o Brasil só adquire real sentido se estiver orientada para a geração de empregos e para a diminuição da desigualdade e da miséria.
Desafios dedicará seus esforços para tornar o trabalho decente o objetivo central do desenvolvimento includente, sustentável e sustentado para todos. Essa é a ponte desejável entre o social e o mundo da economia. Tão desejável quanto difícil, uma vez que os conflitos, os jogos de interesse, as inadequações institucionais e as aspirações menores e egoístas já demonstraram seu poder de atuação ao longo da história. Vencer essa batalha é a preocupação central de todo o povo brasileiro. Desafios nasce buscando inspiração no diálogo reflexivo e no respeito à diversidade contra as armadilhas da receita fácil, do ast food ideológico, dos prestígios da aventura e da mistificação política. Ipea e Pnud consolidaram ao longo dos anos a compreensão de que a dívida social que o Brasil enfrenta é fruto de várias décadas de crescimento rápido, porém socialmente perverso, excludente e concentrador, seguidas de mais de duas décadas de virtual estagnação. O desafio dos próximos anos é prosseguir no caminho do crescimento, aprofundando o debate sobre como fazê-lo beneficiar a todos, gerando empregos de qualidade e distribuindo renda.
A agenda de reformas é de longo alcance e não será cumprida de uma vez, dadas as características do arranjo entre as instituições e os agentes econômicos e sociais. Não é à toa que as reformas pedem constantemente novas reformas, pois são feitas passo a passo, muitas vezes aumentando o nosso índice de ansiedade. Não há outra forma de estruturar o debate nacional. O tempo, nesse caso, está do lado da democracia. Tempo para amadurecer a discussão, para permitir o desenho de novas instituições. Isso requer líderes genuínos, diálogo e pactuação. O tempo social assim concebido é da essência da democracia.
Desafios nasce comprometida com a construção de um novo pacto de governança que pede um padrão renovado de relacionamento entre o setor público e o privado, a busca de um ambiente de cooperação capaz de encontrar o convívio virtuoso entre o Estado e os mercados, o sistema produtivo e a regulação pública, o investimento, o risco e o respeito à sociedade. Há décadas que a história do Brasil não registra uma combinação tão favorável de inflação controlada, contas públicas ordenadas e contas externas superavitárias. Assegurar e aprofundar essas conquistas de modo a viabilizar um salto estratégico no investimento certamente tornará mais próximo o desenvolvimento sustentável que todos buscamos. Pensar esse futuro implica elaborar e implementar políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. Significa dar vida a um verdadeiro mutirão para induzir a inovação, de modo a aumentar o investimento privado. O Brasil assentou os trilhos, não cedendo às pressões tão intensas quanto ligeiras para abandonar sua rota de responsabilidade. Desafios buscará alertar contra os sortilégios e as aventuras. Milagres, aos milagreiros. À administração pública de qualidade, a coragem e a ousadia de ser responsável por um País de quase 200 milhões de brasileiros.
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