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Educação - Garimpo de inteligência

2004. Ano 1 . Edição 1 - 1/8/2004

A Sociedade Brasileira de Matemática organiza, desde 1979, a Olimpíada Brasileira de Matemática, uma competição que revela futuros cientistas e que até 2005 deverá envolver 47 mil escolas do ensino fundamental. Esse é um movimento importante que deve ser ampliado para que o Brasil se estabeleça como um pólo exportador de software

Walter Clemente

noticias-6-ImagemNoticiaAtenas galvaniza a expectativa, com promessas de muitas medalhas para os atletas verde-amarelos. Pouca gente, porém, conhece uma outra competição, em que a vitória não é medida por centésimos de segundo, mas que é muito importante para o progresso científico e tecnológico brasileiro.No ano passado, 150 mil estudantes de 3,5 mil escolas das principais cidades participaram da Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM), segundo Suely Druck, presidente da Sociedade Brasileira de Matemática (SBM),organizadora desses jogos há 25 anos.A competição foi criada para promover o estudo da matemática, treinar professores e descobrir talentos precoces para as ciências. E acerta na mosca. Fábio Dias Moreira, por exemplo, ganhou medalha de ouro em 1997, aos nove anos, e foi aceito como membro da SBM em maio, com 16 anos.

As Olimpíadas de Matemática existem no Leste Europeu desde 1954, chegaram ao Brasil em 1979, mas só a partir de 1995 ganharam a estrutura de um projeto nacional, com recursos do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), num trabalho conjunto da SBM com o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa),órgão do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) que funciona no Rio de Janeiro. A OBM nasceu e cresceu no Brasil à margem do sistema oficial de ensino. Se as escolas públicas participassem das provas, o número de inscritos poderia atingir pelo menos 5 milhões de jovens, segundo a previsão de Druck,pois existem 34 milhões de alunos no ensino fundamental e metade dos estudantes abandona os estudos antes que se possa fazer alguma avaliação de seu talento. A Argentina, com uma população de 36 milhões de pessoas, mobiliza um milhão de estudantes em sua versão do certame.

Olímpíada na inclusão social Mas esse quadro está mudando. Em agosto, 70 mil alunos das escolas públicas de 233 cidades do Piauí entrarão num torneio de matemática, organizado pela SBM e Secretaria Estadual da Educação, com patrocínio da Secretaria de Inclusão Social do MCT, informa César Camacho, presidente do Impa. "A partir de 2005 teremos um programa nacional para testar as habilidades em matemática dos alunos de escolas públicas", comemora Camacho. Em maio, dirigentes da SBM levaram a proposta ao ministro da Educação Tarso Genro, mas o projeto não avançou neste ministério e acabou tendo abrigo no MCT e foi avalizado pelo Presidente Lula, que no dia 12 de julho recebeu os dirigentes da SBM.


"Será uma olimpíada de inclusão social e pretendemos atingir 2,5 milhões de estudantes em 2005, da 5ª a 8ª séries", diz Druck, presidente da SBM. Os alunos de 47 mil escolas públicas, em todo o País, serão selecionados para receber bolsas de estudo e acompanhamento escolar,por meio de uma olimpíada nacional, um sistema de incentivo ao estudo de matemática e seleção de talentos, desenvolvido pelo MCT, por meio do Impa e da SBM, com a chancela do Presidente Lula.A Olimpíada das Escolas Públicas quer atingir todos os alunos do ensino fundamental em quatro anos. O projeto ainda está sendo concluído pelo MCT e terá duas etapas. A primeira será elementar e terá como objetivo divulgar as vantagens do aprendizado da matemática. A segunda selecionará 1,5 mil alunos que terão bolsa de estudo por um ano, além de acompanhamento especial. "Vamos selecionar jovens talentos não apenas para a matemática, mas para as ciências", diz Druck.

Com a ausência das escolas públicas na Olimpíada de matemática o Brasil estava desperdiçando talentos científicos em potencial. O matemático Jacob Palis Jr., vice-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC),pesquisador do Impa e um dos idealizadores da OBM, recomenda investimento imediato em ensino e infra-estrutura.Além disso, defende a idéia de que a Olimpíada de Matemática é útil no processo de construção de um corpo de cientistas e pesquisadores de primeira linha.

Duas disciplinas são consideradas fundamentais na construção da competência para a vida profissional de qualquer cidadão: a língua materna, o português, no nosso caso, e a matemática. Ao contrário da disseminação dos conhecimentos da língua, a matemática só ganhou alguma relevância nos meios acadêmicos brasileiros no início dos anos 70,quando chegaram ao país os primeiros doutores que deram vida aos cursos de pós-graduação. "O estudo da matemática começou tarde no Brasil e nunca foi bem cuidado pelas autoridades brasileiras", diz Druck. Sem uma sólida base matemática, será difícil para o Brasil virar um exportador de programas de computador, uma das metas da política industrial do governo federal.


O Brasil tem grande potencial na área de software, mas precisa investir de forma mais maciça e focada no ensino de matemática, tanto para crianças como para universitários. Isso vale dinheiro, pois atrai investimentos. Na Índia a formação acadêmica em matemática e outras ciências exatas é bastante sólida e exigente.A constatação dessa realidade atrai o investimento de empresas norte-americanas de desenvolvimento de software.

O Brasil poderá seguir a trilha da Índia. No entanto, como explica Camacho, do Impa, para atrair investimentos será preciso fortalecer todos os níveis de ensino, formar pessoal competente no ensino médio, na universidade e em pós-graduação. Isso aumentará a produtividade científica e tecnológica. "É recomendável criar um centro matemático de aplicações industriais de alto nível", diz Camacho. O objetivo dessa entidade seria a promoção da competitividade e da inovação industrial.

Competições ao estilo da Olimpíada de Matemática facilitam a detecção de talentos no sistema escolar.Uma vez descobertos e preparados, eles podem contribuir para o desenvolvimento científico e tecnológico do País. Não é à toa que 85 países disputam, desde o final da década de 1950, os jogos matemáticos criados pela Olimpíada Internacional de Matemática (IMO).

Bolsas no exterior O modelo aplicado pela OBM divide os participantes em quatro níveis: da 5ª à 6ª série, da 7ª à 8ª série, de ensino médio e universitários. São realizadas três etapas principais de avaliação. Os melhores estudantes acabam fazendo parte de um grupo que participa de disputas internacionais. Paralelamente à Olimpíada da SBM, realizada todos os anos entre junho e setembro, existem outros 17 jogos regionais, apoiados pela entidade e executados por estados e municípios.A organização da Olimpíada da SBM envolve diretamente 108 professores de matemática, 18 deles dedicados à secretaria nacional, no Rio de Janeiro.


O Impa e a SBM têm acolhido e orientado os jovens talentos matemáticos. Das 50 estrelas mais jovens da matemática brasileira, dez foram garimpadas pela OBM. Os alunos de maior destaque muitas vezes chegam a ganhar fama mundial. Alguns já receberam bolsas de pesquisa do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), de Boston, nos Estados Unidos. "Eles não são talentos específicos da matemática e podem ser bem treinados para outras ciências, como as engenharias e para a economia", garante Palis.

Entre os vencedores das OBM que passaram pelo Impa está Larissa Cavalcante Lima, do Ceará, de apenas 17 anos e é a primeira mulher do Brasil a ganhar medalha de prata na IMO, em 2003 no Japão.Hoje estuda no MIT.Alguns dos laureados nasceram em famílias de poucas posses. É o caso de Tiago Costa Leite Santos, de 16 anos, que cresceu na periferia da capital paulista e levou medalha de prata na última Olimpíada do Cone Sul.Ou de André Neves, de Santo André, na Grande São Paulo, destaque em uma competição realizada na Índia, em 1996. Por sair-se tão bem nas olimpíadas,André Neves foi convidado para ser pesquisador na área de finanças no Instituto Tecnológico de Tóquio, com direito a bolsa de estudos. Hoje ele trabalha na IBM.

A cada avaliação, novos destaques aparecem no cenário da matemática. O Impa e a SBM têm conseguido mantê-los em casulos especiais, com bolsas e ambiente de estudo amplo o suficiente para que suas curiosidades possam ser saciadas.O carioca Moreira entrou recentemente para essa turma. Ele convive com os pesquisadores do Impa e freqüenta os cursos oferecidos pela casa desde os dez anos de idade. Ganhou sua primeira medalha de ouro da OBM quando estudava no Colégio Pedro II,de São Cristóvão, ainda no ensino fundamental. Em 1998,os melhores colégios do Rio de Janeiro disputaram a sua matrícula, com bolsa de estudo integral. Desde então ele participou de 22 olimpíadas nacionais e internacionais e ganhou 21 medalhas, 16 delas de ouro. No ano passado, Moreira concluiu o curso médio e passou a preparar sua tese de mestrado em computação gráfica. Por esse trabalho ele recebe uma bolsa do Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), de 850 reais por mês. E, além de tudo isso, o rapaz ainda dá aulas de matemática num curso pré-vestibular, para satisfazer sua ânsia de ensinar.


Há outros casos interessantes, que demonstram a importância de buscar talentos para aproveitá-los melhor. Alex Corrêa Abreu, de 17 anos, é de Niterói, no Rio de Janeiro. Conseguiu uma vaga no colégio Militar da Tijuca depois de uma batalha ferrenha travada pela mãe. Participou pela primeira vez de uma Olimpíada de Matemática em 1998, quando cursava a sexta série do primeiro grau. Naquela época, nem se classificou para uma segunda fase. Tentou novamente no ano seguinte, e também não ganhou nada. Aí resolveu estudar. Entre 2000 e 2003 entrou para o batalhão dos melhores jovens matemáticos do País. Ganhou três medalhas de ouro, duas de prata e duas de bronze. Ele cursa matemática na Universidade Federal do Rio de Janeiro e faz mestrado em matemática pura no Impa.

Além da OBM,a Sociedade Brasileira de Matemática desenvolveu outro projeto para melhorar a qualidade do ensino de matemática.É a Universidade-Escola,que leva alunos de graduação e pós-graduação para escolas da rede pública em regiões do interior do Brasil, num sistema parecido com o Projeto Rondon, da década de 1960. Existe outra iniciativa pioneira e bem-sucedida do estado do Ceará, o projeto Numeratizar.

O Brasil ainda enfrenta muitos problemas em seu sistema educacional. No ensino fundamental, apenas 2,8% dos alunos revelam conhecimentos satisfatórios de matemática.No final do ensino médio, esse porcentual chega a 7%. As informações são do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que, em 2003, avaliou 300 mil alunos de 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio. A média nacional em matemática, na 4ª série, foi de 177,1 em 500 pontos. O nível considerado satisfatório pelo Ministério da Educação é de 200 pontos.


O cenário no nível universitário não é diferente. A matemática tem obtido as médias mais baixas entre as áreas avaliadas, todos os anos, pelo Exame Nacional de Cursos, o Provão. A maioria dos professores formados não domina o conteúdo que deveria ensinar. "Apenas 11,2% das provas discursivas de licenciatura em matemática realizadas em 2001 demonstraram conhecimento suficiente", diz Druck. "Isso é especialmente significativo porque as provas de licenciatura têm 70% do conteúdo do ensino fundamental e médio". Pior: faltam professores em quase todas as regiões, num total que beira os 90 mil, segundo estimativa da SBM.

A partir de entrevistas com professores das cinco regiões nacionais, realizadas nos últimos dois anos, Camacho apresenta um duro diagnóstico: o conteúdo da matemática ensinada nas escolas está debilitado. Boa parte dos livros didáticos utilizados é incompleta ou incorreta. Para ele, a educação vai mal, entre outros motivos, porque privilegia a aprovação quase automática, sem exames que possam afastar os estudantes do sistema."É interessante verificar que pessoas educadas se posicionam contra a competição nas escolas, mas torcem para um time de futebol", diz Camacho."Elas admitem a competição esportiva, mas são contra a avaliação do aprendizado."

Competições como a Olimpíada de Matemática podem ajudar a garimpar talentos. Será muito positivo se os certames se multiplicarem pelo País. Mas, para criar bases sólidas para o progresso científico e tecnológico, será necessário promover profunda reforma do sistema de ensino brasileiro.

 
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