2004. Ano 1 . Edição 5 - 1/12/2004
"A contribuição empresarial independe das políticas governamentais, sejam elas nacionais ou locais. Trata-se de uma iniciativa do próprio empresário".
Nathalie Beghin
A cada dia aumenta o interesse da sociedade brasileira em conhecer as motivações e as conseqüências do crescente envolvimento das empresas privadas na área social. Há cinco anos o Ipea promove estudos sobre esse tema, em buscando de entender como e por que o setor privado vem se dedicando a desenvolver, em caráter voluntário, ações sociais em benefício de comunidades.
As pesquisas realizadas pelo Instituto no final dos anos 1990 revelaram que é expressivo o percentual de empresas privadas que atuam no campo social: 59% declararam realizar atividades sociais não obrigatórias para comunidades em geral. Esse conjunto de empresas investiu nessa área cerca de 4,7 bilhões de reais em 2000, o que correspondeu a 0,43% do PIB daquele ano. Não obstante os riscos de se extraírem generalizações a partir de informações sobre um universo multifacetado, é possível destacar as seguintes características que marcam a ação social do setor empresarial: o envolvimento é essencialmente de cunho filantrópico e distante de interesses econômicos. Trata-se de uma atuação pulverizada, motivada por pressões oriundas de demandas dos mais carentes. Uma minoria vislumbra resultados econômicos dessa atuação: a melhoria da própria imagem ou o aumento da lucratividade. O retorno é percebido, em geral, no campo das gratificações pessoais e da melhoria das condições de vida das comunidades atendidas. Observa-se, ainda, que a contribuição empresarial independe das políticas governamentais: trata-se de uma iniciativa do empresário, que não reconhece influências no seu processo decisório, na operacionalização das ações e no volume de recursos aplicados.
Qualquer que seja a interpretação que se queira dar à natureza desse ativismo social, não se pode negar que o setor privado lucrativo no Brasil é um ator importante na implementação de políticas de caráter público. Buscar entender como as empresas interpretam e enfrentam a pobreza e a exclusão não significa, necessariamente, uma postura de defesa de seus pontos de vista, e muito menos de negação da importância dos demais atores sociais. A análise do fenômeno busca subsidiar o debate sobre como se definem e delimitam os interesses privados e a ação pública.
Agora o Ipea vai novamente a campo com o intuito de atualizar os dados da Pesquisa Ação Social das Empresas nas regiões Sudeste e Nordeste. A amostra tem mais de quatro mil empresas. O levantamento das informações ocorre um duas etapas: a primeira é realizada por telefone, pois a interatividade permite um melhor esclarecimento sobre o conteúdo do que se busca pesquisar. Na segunda etapa é enviado um questionário mais detalhado para ser preenchido apenas pelas empresas que declararam ter realizado ações sociais.
O que está sendo divulgado pelo Ipea são as informações obtidas na primeira etapa, realizada entre julho e outubro de 2004. Os resultados fornecem um retrato das empresas que realizaram ações sociais em 2003, por porte e por setor de atividade econômica. Este ano, a Pesquisa explorou, em caráter inédito, o grupo de empresas que não realizou qualquer ação social, buscando identificar os motivos de tal comportamento bem como as razões que as levariam a atuar nesse campo. Traz também respostas a perguntas tais como: o ativismo social empresarial tem crescido nos últimos anos? Se sim, qual a magnitude desse crescimento? Existem diferenças entre pequenas e grandes empresas ou entre indústria e comércio? Por último, restam as indagações sobre o tipo de ações que as empresas realizam, como operam, por que atuam e quem beneficiam. As respostas estarão disponíveis após a conclusão da segunda etapa. A divulgação dos resultados está prevista para o primeiro semestre de 2005.
Nathalie Beghin é consultora do Ipea
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