2005. Ano 2 . Edição 6 - 1/1/2005
"O livro é um importante fator de desenvolvimento econômico e social de uma nação, uma verdade nem sempre lembrada"
Raul Wassermann
Muito se disse da pesquisa sobre o livro no Brasil que os economistas George Kornis e Fabio de Sá Earp, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizaram para o BNDES. Na apresentação dos resultados, os pesquisadores observaram que não entendem por que o setor não está berrando por mais apoio e fica escondendo a verdade.
E eles têm toda a razão. Há poucas décadas havia um estranho hábito no setor editorial de sempre divulgar que estava tudo ótimo, estando ou não. Quando uma nova geração, mais exigente e mais profissionalizada, chegou ao mercado, os números foram ficando mais claros. A partir de 1990 obteve-se um histórico de dados importantes sobre o mercado editorial, e quem lia as pesquisas com a devida atenção via uma realidade preocupante.
Aliás, a pesquisa dos economistas da UFRJ não mostra nada que já não fora obtido no Diagnóstico do Setor Editorial (de 1990 a 2002) ou na pesquisa Retrato da Leitura no Brasil (2001), a primeira feita diretamente com a produção e as vendas das editoras e a segunda pesquisando a opinião de pessoas maiores de 14 anos de todo o país por meio de uma amostragem de cerca de seis mil entrevistas. O grande valor desse novo trabalho é confirmar os problemas e fazer um alerta consistente sobre as conseqüências que a falta de uma política de governo organizada podem trazer para o futuro da nação.
Infelizmente, as entidades de classe que patrocinavam o chamado Diagnóstico do Setor Editorial - e cuja metodologia foi adotada em toda a América Latina com apoio do Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e no Caribe - substituíram as pesquisadoras por uma instituição sem experiência na área. Além disso, após a pesquisa referente ao ano de 2002, foi feita uma verificação do desempenho do mercado nos últimos cinco anos abstraindo-se as compras governamentais, e o resultado mostrou uma queda livre e contínua. Esse "pequeno" detalhe não foi divulgado e os pesquisadores da UFRJ se preocuparam em fazer umas poucas contas descobrindo o problema. Para ter uma idéia, as compras de governo significam em média 50% do valor anual faturado pelo mercado. Mas isso está longe de atender à necessidade de dar acesso à leitura a todos, pois se trata de programas dirigidos a escolas públicas, muito importantes, mas que só atendem crianças matriculadas; já as que saem da escola...
Felizmente, ainda há alguma esperança quando, depois de engasgar nos planos, o ministro da Cultura tirou a coordenação do Programa Fome do Livro/ Plano Nacional do Livro e da Leitura de sob as asas da Fundação Biblioteca Nacional. Realmente, como já alertava um memorial entregue pela Câmara Brasileira do Livro aos presidenciáveis em 2002, a missão da Biblioteca Nacional deveria ser focar o importante trabalho de preservação de seu valioso acervo e deixar a política do livro e da leitura para um órgão independente, capaz de dialogar com várias instâncias do governo para que o assunto deixasse de ser tratado como "perfumaria cultural".
Essa missão está nas mãos de Galeno Amorim, ex-secretário de Cultura de Ribeirão Preto e profissional do livro, e os primeiros resultados foram a discussão de regulamentação da Lei do Livro e de um Plano Nacional do Livro e da Leitura, além do decreto que substitui PIS e Cofins por uma pequena taxa recolhida a um fundo destinado a executar o plano. Agora é necessário que todos os envolvidos façam suas contas e descubram que a cascata de taxas pode mudar de direção e levar a uma baixa no preço dos livros.
Falta, também, a volta da Secretaria do Livro e da Leitura do Ministério da Cultura, ou algo assemelhado, mas com poderes de dialogar com os órgãos de educação, indústria, desenvolvimento, economia e até saúde. Um órgão que atue com respeito pela aura romântica que envolve o livro, mas consciente de que o livro é muito mais importante como fator de desenvolvimento econômico e social de uma nação, uma verdade nem sempre lembrada.
Raul Wassermann, editor e ex-presidente da Câmara Brasileira do Livro (1999 a 2003)
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