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Política Industrial - A escolha dos competidores

2004. Ano 1 . Edição 2 - 1/9/2004

Coréia do Sul usa políticas públicas para acelerar inserção no mercado global e suas grandes empresas agora disputam liderança tecnológica.
 

Por Edmundo de Oliveira, de Seul

noticias-14-ImagemNoticiaSeul, a moderníssima capital da Coréia, país que saltou para o clube dos desenvolvidos em apenas 30 anos

Um serviço profissional dedicado a testes comparativos entre produtos examina duas câmaras filmadoras digitais concorrentes. Apesar da tecnologia mais recente, a última câmara da Samsung apresenta desempenho inferior ao da equivalente da Sony, que já está nas prateleiras faz ano e meio. O steady shot do aparelho da Samsung, designação da tradicional fotografia eletrônica quando obtida por filmadoras, treme a imagem se a pessoa focalizada se movimenta bruscamente. A máquina Sony mantém-se impávida. O foco noturno da primeira borra, enquanto o da outra fica nítido. Outros pecadilhos da Samsung inclinam a nota final em favor da Sony. Mas as duas entregam basicamente o mesmo serviço. E a coreana custa muito menos do que a líder japonesa. Esse tipo de comparação oferece uma boa pista para se falar do modelo econômico nos países de industrialização tardia.

Produzida por um dos braços mais dinâmicos do chaebol (conglomerado que reúne empresas de vários setores) coreano, que faturou 55,1 bilhões de dólares em 2003, cerca de um décimo do PIB de seu país de origem, a câmara Samsung revela as dificuldades, mas também as virtudes, da industrialização baseada na corrida para reduzir um formidável atraso tecnológico frente aos países avançados. A Coréia, juntamente com outros países, como Taiwan, Cingapura, Tailândia e Malásia, realiza esforços apreciáveis para enganchar seus aparelhos produtivos no ritmo de inovação que vigora no mundo desenvolvido.

Competição Dito de outro modo, a Samsung Electronics faz boas câmaras, mas fica alguns passos atrás do excelente produto da Sony. No caso particular, seu esforço virtuoso é que conta, pois a capacidade de colocar no mercado global câmaras de boa qualidade é uma condição necessária para levá-la à liderança. Registre-se que a Samsung já o fez em memórias para computador, área na qual é a maior fornecedora mundial; e tem igualmente progredido depressa nos celulares, onde já ocupa o terceiro lugar. Nestes dois segmentos, ao menos, os coreanos passaram de aprendizes a professores dos japoneses. É o que importa aqui.

A essência da virada que os tigres asiáticos deram nos últimos 30 anos é fazer em menos tempo o caminho que os japoneses percorreram no imediato pós-guerra. Não esperaram que o mercado competitivo impusesse um processo de seleção e de especialização às suas empresas, com base em vantagens comparativas. Afinal, que vantagens podia oferecer Taiwan, no início da década de 1970, quando era uma ilha mais conhecida por suas culturas de arroz, abacaxi e cana-de-açúcar? Ou a Coréia, no início da década de 1960, com uma renda per capita de 100 dólares?

Sob ditaduras militares, vivendo na fronteira da guerra ideológica que polarizou o mundo na segunda metade do século passado, esses dois países desafiaram os acordos de Bretton Woods, aplicando intensamente a força governamental para transformar intenções ousadas em realizações bem-sucedidas. Não foi sem conflitos com o Fundo Monetário Internacional e com o Banco Mundial que o governo do general Park Chung Hee (1961-1979) inverteu os termos das propostas concebidas pelas instituições com sede no Ocidente e tocou adiante o projeto de modernizar uma sociedade agrária, que tinha sofrido com a ocupação japonesa durante toda a primeira metade do século XX. Com planificação e intervenção nos sistemas de preços, crédito e tarifas, o governo coreano centrou forças na aceleração do desenvolvimento .

O auge dessas políticas deu-se na década de 1970, quando o país evoluiu da indústria leve para a pesada, tornando-se o maior e mais eficiente produtor mundial de navios, além de um gigante no aço e na petroquímica, começando a investir em Pesquisa e Desenvolvimento. Em 1979, o general Park foi assassinado e o panorama interno mudou, mas o primeiro salto estava completo.

Procurando vencedores Hoje, o caso que fascina está na vizinha China. Para compreendê-lo, porém, seria conveniente entender bem o exemplo coreano. Afinal, a renda per capita daquele território com 48 milhões de pessoas numa área equivalente à de Pernambuco se multiplicou por 25 em menos de três décadas: de 459 dólares em 1976, saltou para os 10 mil dólares atuais. Os tempos são outros e existem marcos multilaterais da Organização Mundial do Comércio que disciplinam subsídios e manobras protecionistas. Mas da observação do caso coreano, onde a ação do governo continua sendo determinante, resulta o entendimento de que o Estado não deve renunciar ao papel de indutor do desenvolvimento industrial e tecnológico, como ocorreu no Brasil a partir da metade da década de 1980.

A distância que as duas bases industriais assumiram nos últimos 25 anos aparece com nitidez no desempenho das principais companhias de cada país. Entre os chaebol coreanos, o faturamento em dólares multiplicou-se por sete, 12 e até mais vezes. A Samsung tinha um quinto da receita da Petrobras em 1979 e hoje é quase duas vezes maior do que o da estatal brasileira, cujo faturamento pouco mais que dobrou no período.

Existe uma diferença básica entre a intervenção praticada na Coréia e a que o Estado brasileiro adotou, na década de 1960. Aqui, os parceiros dos investimentos estatais foram selecionados um a um, setor por setor. Chama-se a isso de "escolha dos vencedores". Na Coréia, o governo preferiu adotar um conjunto de competidores para cada segmento protegido, mantendo o Estado fora da atividade produtiva. A "escolha dos competidores" é tão agressora ao conceito mercadológico canonizado pelo FMI quanto a "escolha dos vencedores". Mas a via coreana revelou-se mais eficaz: no Brasil o governo deu patente para um produtor em cada linha e confiou na sua fidelidade. Uma geração depois, conta praticamente só com a Petrobras. O resto do time passou ao controle de competidores estrangeiros.

Solavancos Na indústria de autopeças, por exemplo, foi premiado um fabricante de pistões para motor, um de amortecedores, ainda um de faróis e assim por diante. Isolados, familiares, tais "vencedores" acabaram vendidos a concorrentes estrangeiros tão logo começou a desabar o cordão de barreiras tarifárias que os protegiam do jogo de mercado. A intervenção do poder público da Coréia delimitava uma seqüência de atividades, definia as condições financeiras de apoio e capturava literalmente os competidores. Como havia poucos grupos privados organizados, meia dúzia de conglomerados familiares tomaram as rédeas da economia e hoje são reconhecidos no planeta inteiro.

Problemas enormes ocorreram tão logo o arranjo ganhou escala, promovendo ligações perigosas entre o mundo político e as poderosas famílias. Mas o Estado coreano era também grande credor dos chaebol, o que permitiu investigações que culminaram em penas de prisão para dois ex-presidentes da República, assim como na destituição de dirigentes de empresas. Essencial nessa trajetória de solavancos, o poder de decisão continuou em solo coreano, ao contrário de parte considerável indústria brasileira.

Assim, é possível reconhecer que a capacidade de manobra em áreas vitais, particularmente no domínio da inovação, faz a diferença entre dois países cuja industrialização correu bastante tempo em rotas paralelas. E saber a razão por que no Brasil não apenas deixamos de fabricar câmaras eletrônicas alguns estágios abaixo da Sony, como também por que desapareceu a capacidade de inovar em TVs, indústria na qual o Brasil se encontrava no mesmo estágio da Coréia no início dos anos 80.

 
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