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Economia - A retomada do investimento

2004. Ano 1 . Edição 3 - 1/10/2004

A economia cresce, o dinheiro passa a ser aplicado no aumento da capacidade produtiva, mas ainda não existem garantias de sustentabilidade do processo.
 

Por Edmundo M. Oliveira*, de Brasília

noticias-16-ImagemNoticiaLaminador de tiras a quente da Companhia Siderúrgica de Tubarão

O investimento aos poucos está reagindo. Não é um boom, não é ainda um movimento espalhado nem generalizado, mas é um sinal de que algo positivo está acontecendo: uma virada na curva, dessa vez para cima. Em números correntes, a taxa de investimento desse ano deverá ficar em torno de 19,3% do Produto Interno Bruto (PIB), segundo a última previsão do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É um resultado superior aos 18% do PIB registrados em 2003, ponto mais baixo em 14 anos (veja o gráfico).

"A novidade é que, genuinamente, o investimento começa a se direcionar para a ampliação de capacidade produtiva", diz Paulo Mansur Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Ipea. Tal tendência contrasta com a situação vivida na década de 1990, quando o investimento concentrou-se principalmente em modernização e atualização tecnológica. Ampliação de capacidade leva a maior produção, maior faturamento, mais postos de trabalho, mais renda e maior consumo das famílias. Ou seja, ao tão desejado crescimento econômico que, nesse ano, deverá implicar uma expansão do PIB de 4,6%, de acordo com a última previsão do Ipea, do início de setembro.

Os dados animam, mas convém observar também que a taxa de investimento em 2004 deverá ser apenas 1,3 ponto percentual superior à de 2003, quando se atingiu o vale profundo dessa estatística. "Não chegamos nesse vale em um ano", afirma o economista do Ipea Fabio Giambiagi. "Ele foi o resultado dos últimos 25 anos de baixo crescimento e não vai ser em um, três ou em cinco anos que voltaremos a níveis de investimento de até 25% do PIB." Por hipótese, ele calcula, se o país tiver um crescimento médio de 4% nos próximos anos, com uma expansão do investimento de 7% ao ano, haverá um ganho adicional de 0,6 ponto porcentual ao ano, chegando a uma taxa de 23% do PIB no fim dessa década. A boa notícia é que o movimento atual, ele diz, "sugere o início de um processo de recuperação que se espera longo e duradouro".

Uma das dificuldades do momento é que os preços dos bens de investimento, isto é, os preços das máquinas e equipamentos e da construção civil, cresceram mais rápido do que os demais preços da economia. Para obter um mesmo volume de investimento físico é necessário poupar uma parcela maior da renda corrente. Assim, se uma pessoa está poupando para construir uma casa e o preço do cimento sobe, ela terá de reduzir a conta do supermercado na mesma proporção, para poupar mais, ou cortar parte do investimento. O preço do investimento começa a convergir para a média dos demais preços da economia, mas a diferença ainda deve perdurar em 2004.

Esse fenômeno oferece um elemento para entender também por que o movimento de recuperação do investimento ainda não é generalizado. "O investimento acontece nos setores em que os preços relativos se mostram consistentes com o equilíbrio de longo prazo, ao contrário do que parece ter ocorrido quando o câmbio estava muito valorizado", afirma Levy. Esses setores estão concentrados principalmente nas áreas exportadoras. É o caso do setor siderúrgico, em que as laminadoras funcionam quase no limite da capacidade, devido à forte demanda externa e à recuperação do mercado interno. O setor deve investir 4,2 bilhões de reais em 2004 (veja a tabela), de acordo com a previsão da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Restrições Como a economia está crescendo acima do esperado, cria-se a expectativa quanto à duração e à sustentabilidade do ciclo dos últimos três trimestres. "A questão é a seguinte: será que vai haver uma retomada do investimento a tempo de sustentar o crescimento?", indaga Renato Fonseca, coordenador da unidade de pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Nos últimos dez anos, o País passou por três ciclos de expansão, que foram abortados por choques externos ou internos, entre os quais o choque de energia de 2001, que derrubou a reação iniciada no final de 1999.

"Nos últimos cinco anos, o estoque de capital da economia cresceu a uma taxa em torno de 2% ao ano. Para sustentar um crescimento do PIB de 5% ao ano, o estoque de capital deveria crescer 5,6% ao ano, e a taxa de investimento deveria ser de 25% do PIB", aponta o último boletim de conjuntura do Ipea. O economista Armando Castelar Pinheiro, do Ipea, cita que a taxa de crescimento do estoque de capital, que é a soma da capacidade produtiva do país, atingiu apenas 0,5% em 2003, o nível mais baixo desde 1992, com o agravante de vir numa tendência declinante. "No ritmo atual o crescimento não se sustenta", afirma. Segundo o Ipea, o crescimento do PIB, ao final dos três últimos trimestres, era de 6,6%, em termos anualizados.

Potencial Qualquer que seja a apreciação sobre as restrições para o crescimento, que varia bastante entre os economistas, existe uma opinião relativamente uniforme quanto à característica do atual ciclo de expansão, que está sendo puxado pelas exportações de bens manufaturados, de commodities agrícolas e outras matérias-primas.

"A característica da recuperação atual é que ela começou há um ano, enquanto a arrancada das exportações se deu há dois anos", diz André Carvalho, economista-chefe da Federação e Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp-Ciesp). "Por isso, é possível dizer também que os investimentos estão acontecendo onde eles mais precisam ocorrer, ou seja, naqueles setores em que as vendas externas impulsionam o uso de capacidade das indústrias."

Carvalho não minimiza a necessidade do investimento em infra-estrutura, em energia, estradas e portos. Apenas separa este ponto de uma discussão mais imediata em relação ao esgotamento do uso de capacidade. "Em vez de ver as restrições ao crescimento em bloco, acredito que, em todo início de recuperação, elas vão se manifestar em gargalos setoriais e é aí que é preciso agir", afirma. Tanto para ele quanto para Fonseca, da CNI, uma abordagem estrita de que o potencial de crescimento do PIB do país estaria situado, nas condições de hoje, entre 3,2% e 3,5% pode, a depender da intensidade com que a política monetária venha a ser exercida pelo Banco Central, frustrar a confiança dos empresários no investimento. "O produto potencial aumenta quanto mais se investe e não é uma boa idéia travar a confiança do empresário no investimento, quando a recuperação se inicia", afirma Fonseca.

Software De um outro ponto de vista, o economista Francisco Eduardo Pires de Souza, do grupo de conjuntura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, aponta "uma dificuldade básica para se avaliar os requisitos de investimento para crescer nos próximos anos: como a economia brasileira cresce muito pouco há mais de duas décadas, período em que houve mudanças tecnológicas e organizacionais profundas, a extrapolação de tendências do passado pode ser enganosa".

Pires de Souza comparou a evolução do preço relativo do investimento no Brasil ante 23 economias, entre 1980 e 2000, e chegou à seguinte conclusão: enquanto este preço recuou 2,1%, no período, nas 23 economias, elevou-se em 55,8% no Brasil. "Até aí fui pessimista, mas vi margem para progredir na comparação seguinte." Nesta, nota-se que os preços do investimento no Brasil, apesar da alta verificada, encontram-se em nível relativamente baixo em comparação com o resto do mundo. Tomando-se este nível nos Estados Unidos, no Brasil o preço do investimento encontrava-se, no ano 2000, 40,9% abaixo.

A hipótese de Pires de Souza é a de que, nesse período, entre outros fatores, não houve no Brasil uma suficiente incorporação de tecnologia nos bens de investimento (máquinas e equipamentos e construção civil, as duas componentes do que os economistas chamam de Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF). Ele ilustra a hipótese mostrando que o peso do software, hoje com uma participação de 10% na FBCF dos Estados Unidos, ganhou alta relevância naquele período. Os preços do item equipamentos e software, excluindo-se a inflação, baixaram, em 2003, a 8% do que eram em 1970. "Acredito que haja grande espaço para evoluir nessa questão no Brasil", afirma.

Regulação Levy considera esta uma hipótese plausível e diz que "pode-se investir menos que 25% do PIB, com mais eficiência, e colher-se o mesmo resultado do que em outros períodos, em termos de taxa de crescimento". Ele se refere aos anos 70, quando o investimento se apoiava fortemente em setores nos quais predominava o setor público ou que eram apoiados por políticas que estimulavam pouco a eficiência. Hoje, ele acredita, além de maior abertura comercial, que estimula a difusão de equipamentos mais modernos, são necessárias regras claras para o investimento e regulação de mercado. "Também é necessário aumentar as garantias de cumprimento de contratos", acrescenta Castelar, para quem não é bom para o investimento nem o retardamento da votação do projeto de lei das agências reguladoras, parado no Congresso, nem interferências do Executivo nas agências, como foi o caso da troca de comando da Anatel, do setor de telecomunicações, em 2003. (leia o debate)

Esse é um ponto que está no centro de dois grandes projetos do governo no momento: o projeto de lei de Parcerias Público-Privado (leia a reportagem) e o projeto de lei para o setor de saneamento (leia o artigo), atualmente em análise na Casa Civil. Essas questões, na opinião do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, fazem parte de uma agenda de reformas do governo.

"Estamos presenciando um começo de recuperação no setor da construção civil, para o que também já está contribuindo o aperfeiçoamento nas regras do setor imobiliário, com a recente aprovação da Lei 10.931", afirma Lisboa. Depois de ter conhecido uma retração inédita nos últimos quatro anos, especialmente uma queda de 8,6 % no ano passado, dados parciais mostram que houve um aumento de 11% no consumo de cimento entre fevereiro e julho e foram criados 90 mil empregos formais no setor de janeiro a agosto. Outro dado relevante da construção é que os financiamentos com recursos da caderneta de poupança subiram de uma média de 2.400 contratos por mês em 2003 para a média de 4.600 contratos no segundo trimestre de 2004.

Fomento O que está abaixo do desejável, no momento, é o desempenho dos empréstimos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que cumpriu apenas 38% do seu orçamento até o fim do primeiro semestre. "Os projetos estão muito concentrados e o que me preocupa é que não sinto grande pressa da parte das indústrias em conversar", diz Fábio Stefano Erber, diretor da área industrial do banco. "Podemos e vamos melhorar os procedimentos para simplificar e acelerar a aprovação de projetos, mas não é o que está impedindo a fluência dos financiamentos."

Da parte do governo federal, foram anunciadas no dia 23 de setembro novas medidas de incentivo ao investimento, antecipando prazos de créditos a receber de PIS-Cofins, de quatro para dois anos e reduzindo de 10 para 5 anos o prazo para que as empresas descontem do imposto de renda as despesas com renovação de máquinas e equipamentos. Essas medidas, com um benefício fiscal de 1,7 bilhão de dólares, juntam-se à desoneração do IPI sobre investimentos em máquinas e equipamentos. Mas o grande nó a ser desatado está na infra-estrutura e o desafio vai muito além dos recursos de orçamento para remover gargalos em portos e estradas.

"A economia brasileira é grande, sofisticada e investe anualmente cerca de 300 bilhões de reais, parte significativa em projetos enormes de infra-estrutura", aponta Lisboa. A confiança do investidor no crescimento sustentável e em regras bem postas é indispensável para que o ciclo que ora se inicia fique imune aos arranques e freadas bruscas dos últimos três ciclos.

 
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