2007 . Ano 4 . Edição 30 - 11/1/2007
Bruno Araújo
No mês de janeiro é divulgado o indicador de competitividade mais famoso, o Índice de Competitividade Global (ICG), do Fórum Econômico Mundial (FEM). Nos últimos anos, as notícias não foram muito animadoras para o Brasil - a posição brasileira no ranking do ICG caiu de 45º lugar em 2002 para 54º em 2003, 57º em 2004, manteve esta posição em 2005, mas em 2006 nossa economia foi rebaixada para a 66.ª posição.Diante desses resultados, a pergunta- chave é:até que ponto devemos nos preocupar com comparações como o ICG?
Para responder a essa pergunta, primeiro é interessante recordar o conceito de competitividade sobre a qual a construção dos índices se baseia. O FEM define competitividade em seu relatório 2006-2007 como o “conjunto de fatores, políticas e instituições que determinam o nível de produtividade de um país”.O conceito se relaciona a uma idéia de vantagem absoluta das nações ligada ao nível global de produtividade, e inspira-se fortemente nas idéias de Michael Porter em seu livro intitulado A Vantagem Competitiva das Nações.
Mesmo que concordemos com a idéia de comparar nações com base no nível global de produtividade, instituições, clima de investimento e outras características - com a ressalva de que o conceito de competitividade atrelado a vantagens absolutas não é algo consensual -, o ponto é que indicadores como o ICG apresentam limitações que merecem ser tão debatidas quanto seus resultados.
A metodologia do ICG combina dados de diversas fontes, mesclando informações de órgãos governamentais com pesquisas feitas com homens de negócios para avaliações menos tangíveis, como a qualidade das instituições.As informações são divididas em “pilares”da competitividade, como infra-estrutura, estabilidade, condições socioeconômicas da população (e outras) e sintetizadas numa pontuação que gera o ranking.Nesse sentido, esse indicador busca uma mensuração ex-ante das condições para a competitividade, e não se baseia em medidas de desempenho e sucesso das empresas em sentido estrito.
“O exercício de benchmarking internacional feito por instituições como o Fórum Econômico Mundial não deve ser abandonado por completo, mas compreendido dentro de seu contexto e limitações”
Porém, as principais limitações desse índice são seis, três de ordem prática e três de natureza teórica.As três primeiras são: 1) incrivelmente, o ranking do ICG - que até o ano passado se chamava Índice de Competitividade de Crescimento - não apresenta nenhuma correlação com a taxa de crescimento do país; 2) se a competitividade é compreendida como um conceito mais estrutural, os países não deveriam mudar tanto de posição de um ano para o outro (veja o caso do Brasil), embora isso esteja relacionado com o fato de que 3) a conjuntura influencia muito a posição do ranking.Por exemplo, as quatro primeiras posições no pilar macroeconômico foram alcançadas por Argélia, Kuwait, Catar e Emirados Árabes, não necessariamente porque a gestão da política macroeconômica desses países seja de excelente qualidade, mas por causa do aumento dos preços do petróleo e dos conseqüentes royalties.
Por sua vez, a primeira limitação teórica é que é muito difícil sintetizar numa pontuação de 1 a 7 o conceito de competitividade acima definido.A segunda é que, mesmo admitida a validade do exercício, os indicadores fiscais, de balanço comercial e de pagamentos devem ser avaliados de uma perspectiva intertemporal, e não ano a ano.Aliás, não raro superávits comerciais vêm acompanhados de recessões econômicas.Por fim, a principal limitação teórica dos indicadores de competitividade ex-ante é que as pré-condições, sejam elas quais forem, não necessariamente se transformam em crescimento ou competitividade.
Dessa forma, a resposta para a pergunta da introdução é que o exercício de benchmarking internacional feito por instituições como o FEM não deve ser abandonado por completo, mas compreendido dentro de seu contexto e limitações.E, sobretudo, complementado por comparações baseadas em medidas de desempenho e capacidades inovativas dos tecidos produtivos dos países, como as que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) tem desenvolvido nos últimos anos.Mas isso já é tema para outro artigo.
Bruno Araújo é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
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