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Biotecnologia - O Brasil na ponta

2005. Ano 2 . Edição 8 - 1/3/2005

Pesquisas brasileiras são elogiadas pela revista Nature e o crescimento de empresas na área tem sido contínuo. Faltam investidores dispostos a correr riscos.
 


Por Andréa Wolffenbüttel*, de São Paulo

brasilpontaPesquisas na área de biotecnologia: recursos dos fundos de risco devem dobrar neste ano

Você aplicaria suas economias num investimento que leva cerca de sete anos para dar resultados, não pode ser retirado durante esse período e tem uma chance de apenas 10% de dar lucro? Se lhe parece que a resposta uníssona a uma pergunta assim seria um redondo não, está enganado. Existe um grupo de investidores especializado em apostar no mais improvável porque, como é do conhecimento de todos, quando a iniciativa dá certo, o prêmio cobre os gastos de uma vida.

E um dos setores que têm atraído investidores de risco é o de biotecnologia, que cresce na esteira do sucesso do agronegócio brasileiro. Foi esse o foco da Votorantim Novos Negócios, o mais forte fundo de venture capital brasileiro, que é ligada ao grupo Ermírio de Moraes e tem Fernando Reinach, cientista de renome, como sócio. "Pela natureza do investimento, sabemos que o resgate será no longo prazo e que passaremos por diversos cenários macro-econômicos durante esse tempo. O que nos assusta mais é a dificuldade do governo em construir uma legislação clara para nortear o setor", diz Reinach.

Ele se refere à questão da Lei de Biossegurança, que está tramitando há um ano e meio no Congresso sem definição. "A falta de garantias sobre o que é legal ou ilegal restringe muito nosso campo. Além de todos os perigos intrínsecos à empreitada, ninguém quer aplicar recursos numa atividade que pode simplesmente ser proibida, como as pesquisas com células-tronco", diz. Por segurança, ele investiu apenas em três empresas de biotecnologia, todas voltadas para a agricultura. Quem recebeu maior fatia dos recursos foi a Alellyx, que, com o aporte de 11 milhões de reais, se transformou na maior e mais moderna empresa de pesquisas biotecnológicas de ponta da América Latina.

Criada por quatro sócios oriundos da Universidade de Campinas, ela entrou em operação em outubro de 2002, com 15 funcionários. Hoje conta com mais de cem. Os fundadores trabalharam no projeto de mapeamento genético da Xylella fastidiosa, bactéria que provoca a doença do amarelinho nos laranjais e que deu nome à empresa (Alellyx é Xylella lido de trás para frente).

Estimulados por Reinach, os pesquisadores animaram-se a usar o conhecimento obtido na academia para abrir uma empresa de biotecnologia com foco nas culturas de laranja, eucalipto e cana. Enquanto passeia pelo imponente laboratório de 800 m2, instalado em um condomínio tecnológico próximo de Campinas, no interior de São Paulo, Paulo Araújo, um dos sócios, fala sobre suas dificuldades. "Depois da folha de pagamentos, nossos maiores gastos vêm dos insumos, que são todos importados, e não temos nenhum incentivo fiscal. Pagamos os mesmos impostos que qualquer empresa.

No Japão e na Europa, companhias que desenvolvem tecnologia de alto valor agregado, como a nossa, têm 50% de desconto nos impostos sobre importação." Por esses e outros motivos, ele acha que ainda não existe de fato, no Brasil, uma política séria de apoio às empresas de inovação tecnológica, e muito menos uma ação específica para o ramo da biotecnologia, que geralmente consome quantias vultosas antes de trazer algum retorno. A Alellyx só deve começar a faturar seus primeiros reais dentro de oito anos.

Porém, o fantasma que mais assombra Araújo e seus colegas não vem de Brasília, e sim do Rio de Janeiro, onde funciona o Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi), órgão responsável pela concessão de patentes. O Brasil tem lidado com a questão das patentes de forma ambígua. Por um lado com respeito, porque sabe que as normas são parte fundamental do jogo da economia globalizada; por outro lado, com ameaças de quebras de direitos, como no caso do coquetel de AZT contra a aids e do remédio contra o amarelinho, que estava dizimando as plantações de laranja. "O governo pode quebrar patentes, mas tem de saber que o preço é a imediata fuga dos investimentos", avisa Reinach.

 

A postura brasileira em relação à propriedade intelectual explica-se pelo fato de que quase toda a pesquisa básica é feita nas universidades públicas, com dinheiro público. Portanto, os benefícios das descobertas supostamente deveriam ser públicos. Mas, quando o processo é bancado pela iniciativa privada, a situação toma outros contornos, já que o proprietário quer garantias de exclusividade na exploração de seus inventos. Não bastasse a insegurança, ainda há a lentidão dos processos, porque no Brasil uma patente leva, em média, sete anos para ser aprovada. "Você já imaginou se depois de passar dez anos pesquisando, quando o produto estiver pronto eu ainda tiver de esperar sete anos pela patente? Não há dinheiro que agüente", desabafa Araújo. Para lidar com o problema, a Alellyx tomou duas decisões: registrar suas patentes nos Estados Unidos e treinar especialistas em propriedade intelectual.

As precauções adotadas pela Alellyx são úteis, mas estão fora do alcance da imensa maioria das empresas brasileiras de biotecnologia, que normalmente são pequenas e não contam com o apoio financeiro de um fundo de risco. Para nascer, e sobretudo crescer, elas dependem da determinação de um cientista e de tudo o que ele consiga encontrar pela frente - o que geralmente se resume a recursos próprios e à infra-estrutura de universidades. Foi assim com Edmur Canzian, engenheiro eletrônico e professor, que há algum tempo sonhava em montar uma empresa de desenvolvimento de produtos eletrônicos para aplicações em biotecnologia. Tomou coragem depois que conheceu o Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), mantido por dois organismos ligados à Universidade de São Paulo - o Instituto de Pesquisas em Energia Nuclear (Ipen) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Abriu a CNZ Indústria e Comércio em 2001 no Cietec e passou dez meses no estágio de pré-incubação aguardando financiamento.

Financiamento A oportunidade veio com um edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Canzian solicitou 300 mil reais, mas obteve apenas 100 mil reais. "Não me abati, peguei o dinheiro, juntei mais algum e montei as primeiras instalações. Até hoje não contei quanto tirei do meu bolso, para não desanimar", diz. Como os recursos mal cobriram os primeiros passos, Canzian percebeu que se quisesse continuar com as pesquisas teria de achar um meio de começar a faturar. Optou por fazer o que muitos empresários desse ramo fazem, isto é, aproveitar as instalações para produzir algo a ser vendido imediatamente, enquanto não consegue atingir seu verdadeiro objetivo.

No caso de Canzian, a intenção é o desenvolvimento de termocicladores, equipamentos utilizados para a multiplicação de material genético, muito aplicados em biotecnologia e que não são fabricados no Brasil. O termociclador importado custa cerca de 40 mil reais e Canzian espera vender o seu pela metade do preço. Quem vai sustentar a empresa até lá são os kits de desenvolvimento eletrônico fabricados pela CNZ, usados, sobretudo, em cursos de eletrônica. Depois de três anos, Canzian já montou o protótipo do termociclador e aguarda um novo financiamento para construir uma linha piloto, com 20 equipamentos, que serão testados na prática. "Sem a estrutura da universidade e da incubadora, eu nunca teria conseguido montar a empresa e obter a aprovação da verba. Além disso, aqui tenho apoio administrativo e operacional, o que é fundamental."

A declaração de Canzian aponta uma característica comum e muito problemática das empresas de base tecnológica: elas são geridas por bons cientistas, que não necessariamente são bons administradores, e precisam de suporte nessa área. Às vezes, a situação vai além. "A cultura das universidades brasileiras ainda vê com grandes restrições o capital privado", afirma Reinach, do fundo de risco da Votorantim, um raro exemplo de talento para a ciência e para os negócios. Por causa dessa desconfiança, as universidades ainda não asfaltaram a estrada que une a academia à iniciativa privada. Mas a aprovação da lei de Inovação traz novas e boas perspectivas.

Inovar A necessidade urgente de mudar esse quadro fez com que o governo criasse, em 2000, o Projeto Inovar, uma ação estratégica da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), com o objetivo de promover o desenvolvimento das pequenas e médias empresas de inovação tecnológica. Um dos pilares do Inovar é justamente o incentivo à criação das incubadoras. Desde 2000 o número de incubadoras aumentou de 135 para 283, sendo mais da metade delas voltadas exclusivamente para iniciativas tecnológicas. Outra empresa filhote de incubadora é a FK Biotecnologia, do médico gaúcho Fernando Kreutz, instalada dentro da Fundação de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (Cientec).

Depois de estudar e trabalhar seis anos no Canadá, Kreutz juntou sua experiência, alguns equipamentos adquiridos em leilões e decidiu voltar a Porto Alegre para abrir seu próprio negócio. Acostumado com o sistema canadense de financiamento, chegou a pensar em levantar recursos por meio do lançamento de ações, conhecido nas bolsas como IPO (Initial Public Offering), mas logo percebeu que o mercado acionário brasileiro não está preparado para lidar com empresas pequenas. Teve de se contentar com os recursos próprios e com a ajuda do dinheiro de uma amiga canadense que acreditou em suas idéias. Esse tipo de "mãozinha", muito comum nos países desenvolvidos, dada pelos amigos ou por uma pessoa física qualquer, é tão importante que até recebeu um simpático nome: Capital Angel (que, em inglês, significa algo como "investidor angelical").

Em economias férteis, com altas taxas de surgimento de novas empresas, existem muitos "capital angels", que contribuem com pequenos valores para que a empresa consiga nascer. Sabendo que os 20 mil dólares recebidos do seu "anjo" dariam para pouca coisa, Kreutz procurou o apoio da incubadora e fez um convênio de cooperação com a universidade. Não ficou só nisso. Resolveu tornar-se um empresário profissional. Freqüentou o curso de empreendedorismo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e assistiu a palestras sobre capital de risco.

Montou um plano de negócios, armou-se de coragem e foi procurar a Companhia Riograndense de Participações (CRP), um fundo de risco formado por capital público e privado. As negociações duraram quatro meses, de fevereiro a maio de 1999, mas valeram a pena. No final, a FK recebeu um aporte de cerca de 400 mil dólares para se estruturar e desenvolver as pesquisas de uma vacina contra o câncer de próstata. "As pessoas se surpreendem quando digo que estou investigando uma vacina contra o câncer, mas por que não?

No Canadá eu trabalhava numa vacina contra o câncer gástrico e quero continuar fazendo exatamente isso, agora pelo meu país", diz o empreendedor. As pesquisas estão caminhando bem e a FK já fez seu primeiro depósito de patente, mas, do mesmo modo que a CNZ, não pode se dar ao luxo de trabalhar apenas com pesquisa. Para manter a empresa funcionando, fabrica e vende kits e insumos para imunodiagnóstico. "Nosso faturamento é pífio, está na casa dos 100 mil reais por ano. Não precisava ser assim. Não quero que o governo me dê dinheiro, quero que ele compre meus produtos."

Pequenos O apelo de Kreutz é comum entre os empresários do setor. O governo ainda não conseguiu uma boa articulação para usar seu poder de compra no sentido de beneficiar as pequenas empresas que investem em inovação tecnológica. Esse passo exigirá um grande investimento em administração e logística, já que as aquisições envolveriam centenas ou milhares de pequenos fornecedores.

Apesar das dificuldades, Kreutz tem motivos de sobra para estar orgulhoso. Sua empresa foi citada com destaque em artigo sobre biotecnologia no Brasil, publicado em dezembro do ano passado na revista Nature, talvez a mais respeitada publicação científica do planeta. Além disso, está negociando um contrato de 12 milhões de dólares que pode mudar a história da FK. Seu conselho para os que estão embarcando agora no mundo das empresas biotecnológicas: estudem administração.

Para suprir a lacuna de vivência e conhecimento administrativos dos novos empreendedores do ramo, três grandes empresas, a Natura, a Orsa e a Centroflora, uniram-se para criar a Ybios, especializada em viabilizar empresas de biotecnologia. "Nós não somos financiadores, apenas detectamos bons projetos e damos apoio necessário para que eles possam se desenvolver. Preferimos nos definir como gestores e fomentadores de pesquisa", diz Ana Lúcia Assad, diretora científica da Ybios. Ela sabe que a distância entre uma descoberta científica e um produto vendável é imensa. Medida quase sempre em anos e em milhões de reais, sobretudo quando se fala em biotecnologia. "Em todo o mundo é assim, mas no Brasil temos de lidar com um complicador muito grande: a burocracia", diz Fernando Pecoraro, também diretor da Ybios. 

Para exemplificar, ele recita uma longa lista de órgãos envolvidos na aprovação dos produtos biotecnológicos: o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (Cgen), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama), a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)... E mais uma dezena de siglas e nomes que incluem até a Fundação Nacional do Índio (Funai). "O problema não é simplesmente a quantidade, mas acima de tudo a dificuldade que envolve os processos e o tempo que eles consomem. Isso desestimula qualquer um." Mesmo assim, a Ybios se propõe a facilitar o caminho dos que tiverem boas propostas. No momento, três projetos estão em fase final de avaliação, mas, é claro, são mantidos em sigilo. Uma das principais tarefas da Ybios é a busca de investidores, especialmente os de capital de risco. E nessa empreitada ela vai contar com uma ajuda importante.

Perspectivas O ano de 2005 trará muitas mudanças no financiamento de empresas de base tecnológica, prevê o superintendente de pequenas empresas inovadoras da Finep, Eduardo da Costa. Além da determinação do governo de continuar a colaborar com cerca de dez fundos da área do MCT, a novidade é a intenção de fundos de pensão entrarem nesse campo, fornecendo capital de risco para empreendedores. O fundo de pensão da Petrobras, o Petros, anunciou que vai destinar, neste ano, 100 milhões de reais a investimentos de risco. Só isso quase duplica o montante disponível no mercado, além de estimular outros grandes fundos a seguir essa trilha. "Acho que um dos fortes candidatos a entrar no capital de risco é o Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil)", diz Costa, esperançoso.

Por outro lado, o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também está trabalhando num programa que tem o nome informal de Criatec, cujo objetivo é criar um fundo, em conjunto com a Finep, para financiar empreendimentos em estágio inicial, que ainda não despertam o interesse dos investidores de risco. São empresas que precisam de valores numa faixa entre 100 mil e 2,5 milhões de reais. "Elas não têm acesso ao crédito e, quando se endividam, invariavelmente morrem. É isso que queremos evitar", diz Aluysio Asti, superintendente de planejamento do BNDES. As projeções são de que esse fundo chegue a auxiliar cerca de 500 empresas. O número pode parecer pequeno, mas representa 1% do universo de pequenas empresas inovadoras, e a notícia é muito bem-vinda em um mercado que não pára de se expandir.

Pujança A comprovação dessa pujança veio com um levantamento inédito elaborado pelo Sindicato das Empresas de Biotecnologia (Sindbio), que comprovou a existência de aproximadamente 6.700 empresas ligadas à biotecnologia no país. Não só a quantidade foi surpreendente, como também sua distribuição territorial. "Descobrimos que em todos os estados há algum pólo de empreendimentos biotecnológicos, ligados a alguma especificidade local", diz Helen de Aguiar, presidente do Sindbio, que não quis revelar muitos detalhes do trabalho, mas contou que os níveis de atividade no Mato Grosso do Sul e no Pará são impressionantes.

"Procuramos mapear um setor novo, sobre o qual não há muita informação, para ajudar o governo a definir suas políticas e também para colaborar na relação entre os empresários", conta Aguiar. Se as intenções governamentais, expostas na política industrial, científica e tecnológica, se concretizarem, não resta dúvida de que o setor vai continuar crescendo, porque sobre os empresários não pesa nenhuma insegurança. Basta olhar para a parede do escritório de Canzian, dono da CNZ, onde há um cartaz que diz:

"Muita coisa vai mudar nessa empresa". Ele lembra que o Brasil perdeu a oportunidade de se desenvolver nos anos 70, na época da explosão da informática, e que agora está atravessando uma nova explosão, a da biotecnologia. "Eu não vou perder esse trem. Pode ser que entre no último vagão, mas na estação eu não fico", diz Canzian. Que tenha uma boa viagem!

 
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