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Diplomacia - Ameaça ou oportunidade

2005. Ano 2 . Edição 8 - 1/3/2005

Brasil e China estão cada vez mais próximos, mas têm alguns interesses conflitantes.
 


Por Maria Helena Tachinardi, de São Paulo

chinaEstação de trem em Xangai mercado de massa atrai investimentos de todo o mundo, e brasileiros não querem perder oportunidades

A relação entre Brasil e China é cada vez mais intensa. O comércio bilateral atingiu 9,1 bilhões de dólares em 2004. Em sete anos, o salto foi de 306% e calcula-se que nos próximos três anos as trocas entre os dois países atinjam 20 bilhões de dólares. Pelo menos é essa a estimativa do embaixador chinês no Brasil, Jiang Yuande. De olho no mercado de 1,3 bilhão de chineses e no crescimento econômico de 9,4% ao ano, empresas brasileiras tomam o rumo do gigante do Oriente e já investiram cerca de 89 milhões de dólares por lá.

Ocorre que o crescimento econômico do país infla a renda da população - e ela está consumindo cada vez mais. Num mercado assim, investir e exportar é um grande negócio. Para os brasileiros que atuam na área de agronegócios, então, a China é o paraíso. Eles estão vendendo etanol, carne e soja aos chineses como nunca. Em outras áreas, no entanto, o gigante amarelo ameaça a indústria nacional com sua alta produtividade e baixo preço. É o caso de eletroeletrônicos, têxteis e brinquedos. Nesses ramos a China disputa a preferência do mercado global com o Brasil - e muitas vezes ganha.

Para o povo brasileiro, os chineses são um enigma. Sua cultura é muito peculiar. Por delicadeza, eles jamais dizem não. Nas negociações, então, tudo parece simples, porque as propostas são formalmente aceitas. Na prática, entretanto, surgem complicações de todo tipo. Ao longo de sua história, a China sempre foi um país fechado, voltado para dentro, muito focado no desenvolvimento de suas potencialidades e na defesa de seus interesses.

Foi assim por milênios, quando era imperial, e seguiu da mesma forma após a revolução promovida por Mao Tsé-Tung. A abertura econômica que se iniciou nos anos 70 trouxe alguma prosperidade ao povo, mas uma cultura milenar não muda em um prazo tão curto. Assim, não é de estranhar que o Brasil esteja descobrindo que a China pode ser um aliado simpático e, ao mesmo tempo, um dragão ameaçador.

Alternativa Entender o "fenômeno China" tornou-se um imperativo. "A China é um desafio e uma alternativa", define o especialista em assuntos asiáticos Amaury Porto de Oliveira, diplomata aposentado e membro do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI) e do Grupo de Conjuntura Internacional (Gacint), da Universidade de São Paulo (USP). "É o único país com potencialidade para tornar-se um pólo alternativo aos Estados Unidos em 2050. Por isso o Brasil deve se manter atento, sem perder de vista seus interesses." Segundo ele é ingenuidade pensar que, por ser membro do G-20 - grupo de países em desenvolvimento que defende a liberalização agrícola na Organização Mundial do Comércio (OMC) - e do clube dos "países-baleia" - com vastos territórios e população -, a China "vá nos dar colher de chá".

A previsão do centro de informações do The Economist Intelligence Unit, que tem três escritórios na China, é que a renda per capita medida pela paridade do poder de compra atinja 9.138 dólares no país em 2009, o que representa crescimento de 45% em relação a 2005. O aumento do consumo de alimentos, bebidas e tabaco será de 42%. A China terá dificuldade para atender à demanda. Apenas 24% de seu território de 9,2 milhões de quilômetros quadrados pode ser utilizado para a agricultura ou a pecuária. O Brasil tem 59% de seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados disponíveis para essas atividades. "Nos próximos 20 anos, 400 milhões de chineses devem trocar o campo pelas cidades. Isso aumentará a demanda por alimentos. Nós queremos suprir essas necessidades", diz o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues.

A China já é o maior consumidor mundial de soja e em 2003 foi o primeiro destino do grão brasileiro. A assinatura de um protocolo, no final de 2004, abre enormes possibilidades, também, para a exportação de carne bovina e de aves. Nos próximos três meses as cotas desses produtos deverão ser definidas em 40 mil toneladas de carne in natura e 60 mil toneladas de miúdos. "Como de fato, hoje, não existe comércio com a China, mas sim com Hong Kong, o volume de negócios deverá crescer rapidamente. As exportações poderão chegar a 180 milhões de dólares ao ano já no segundo semestre de 2005", prevê Jerry O´Callaghan, diretor da unidade de carnes da Coimex Trading. O ministro Rodrigues estima que em três anos as vendas de frango para o mercado chinês poderão render ao Brasil 200 milhões de dólares anuais. 

Agronegócio No que diz respeito ao agronegócio, está se vendo, as perspectivas são animadoras. Commodities agrícolas e produtos industriais de baixo valor agregado, como celulose, papel e minérios, compunham 79% do valor das exportações para a China em 2003. Os dois países também desenvolvem excelente cooperação tecnológica na construção e no lançamento de satélites. Em outros casos, quando o assunto é manufatura e tecnologia, no entanto, o perigo é claro.

Segundo Mario Salerno, diretor de estudos setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os dois países são aliados nas disputas diplomáticas no âmbito da OMC. Mas, assim como o Brasil, a China quer exportar produtos de alto valor agregado e conta com financiamentos em melhores condições do que os exportadores brasileiros. "Agora os chineses estão internacionalizando suas empresas na área de distribuição. Dessa forma, é possível que produtos de origem brasileira sejam deslocados para terceiros mercados por eles. Esse já é o caso de máquinas, ferramentas convencionais e sapatos."

O ano de 2004 marcou uma nova fase no relacionamento entre Brasil e China, com a consolidação dos negócios e das relações diplomáticas. Houve a troca de visitas entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Hu Jintao, com a assinatura de diversos protocolos para pavimentar o aumento dos investimentos e do comércio bilateral. Grupos empresariais brasileiros aceleraram a implantação de unidades industriais na China.

A catarinense Weg adquiriu, em dezembro do ano passado, a Nantong Electric, fábrica chinesa que produzirá motores elétricos trifásicos de baixa e alta-tensão, destinados principalmente à aciaria, à mineração, à petroquímica e aos fabricantes de bombas e compressores. "Pretendemos ampliar a penetração comercial no mercado asiático, melhorar a logística comercial e operacional e gerar maior competitividade", diz Décio Silva, presidente executivo do grupo, que planeja inaugurar a unidade chinesa em março.

A Embraer comemorou a encomenda pela China Southern Airlines de seis jatos ERJ 145. Eles somam-se à frota de cinco aviões regionais da empresa que já voam no país desde 2000. O investimento da Embraer é considerado emblemático: a empresa detém 51% do capital na joint venture Harbin Embraer Aircraft Industry, criada em dezembro de 2002. Os sócios chineses são a Harbin Aircraft Industry e a Hafei Aviation Industry, ambas controladas pela China Aviation Industry Corp. II (Avic II). A empresa faz a montagem da família de jatos regionais ERJ 145. Num estudo mercadológico, a Embraer estimou a demanda total da China por aeronaves regionais, no segmento de 30 a 120 assentos, em 635 unidades entre 2004 e 2023. É o céu de brigadeiro para a companhia de aviação brasileira.

Indústria O ritmo acentuado de industrialização da China nos últimos 20 anos fez do país um dos maiores importadores de minérios do planeta. A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) aproveitou a oportunidade e firmou parceria com os chineses. "A empresa tem experiência em negociar e ganhou uma representatividade que nos permite, hoje, trazer os chineses para serem parceiros da Vale no Brasil, com capital para gerar empregos e investimentos", diz Roger Agnelli, presidente da companhia e do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Os negócios são variados.

O mais importante é uma joint venture com a Baosteel Shanghai Group Corporation, a maior siderúrgica da China. Os dois grupos estão construindo uma unidade em São Luís, no Maranhão, para produzir placas de aço, que, segundo avaliação da Vale, será o maior investimento na indústria siderúrgica em muitos anos. Agnelli destaca também outro investimento, desta vez com a Chalco, que vai alavancar a abertura da mina de ferro de Paragominas. A fase inicial desse projeto, que deverá entrar em operação em 2007, demandará investimentos estimados em um bilhão de dólares. Há ainda o projeto de construção do navio Ultralarge Ore Carrier com a Baosteel, que permitirá o transporte mais eficiente do minério de ferro, além de outros contratos no setor de carvão.

É grande a lista de empresas brasileiras que já embarcaram rumo ao Oriente. A Empresa Brasileira de Compressores (Embraco) foi uma das pioneiras. Fabrica compressores para geladeiras na China. A Marcopolo produz partes e peças e pretende fabricar ônibus por lá. A Sadia tem uma churrascaria em Pequim, onde introduziu o sistema de rodízio. Escritórios de advocacia, a Bolsa Mercantil & Futuros (BM&F), o Banco do Brasil, o banco Itaú, as construtoras Mendes Júnior e Odebrecht, a petrolífera Petrobras e a companhia de aviação Varig também já se instalaram em território chinês.

 

A Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex) definiu 18 setores com potencial de competitividade naquele país, entre eles cosméticos, jóias e software. Empresas de calçados e de autopeças também intensificam sua aposta na China. "Estão ocorrendo mudanças qualitativas e quantitativas rápidas", diz Renato Amorim, secretário executivo do CEBC, órgão que nasceu em meados de 2004 com empresas médias e grandes - 32 do Brasil e 30 da China - e tem o papel político de facilitar a interligação entre os governos. O embaixador Yuande contabiliza 312 projetos ou empresas do Brasil na China, mas muitas têm apenas representação comercial ou caixa-postal.

Entre as companhias chinesas presentes no Brasil as quatro principais são a Huawey e a ZTE, concorrentes na fabricação de aparelhos de telecomunicações e telefonia celular; a Gree, que produz aparelhos de ar condicionado; e a SVA, que fabrica aparelhos de DVD. Segundo Amorim, "virão mais empresas de tecnologia". De acordo com o embaixador Yuande, os investimentos diretos da China já somam 167 milhões de dólares.

Depois da visita do presidente chinês, Hu Jintao, ao Brasil, em novembro de 2004, ficaram mais evidentes os setores prioritários para os chineses. Foram assinados seis documentos entre os setores privados dos dois países. O de cooperação no Gasoduto do Nordeste (Gasene), entre o Eximbank da China, a China Petrochemical Corporation (Sinopec), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Petrobras. Uma joint venture para a produção de vagões ferroviários entre a Zhuzhou Rolling Stock Works, a Mitsui e o Consórcio Metalmecânico do Espírito Santo.

O acordo básico entre a Eletrobrás, a Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica do Rio Grande do Sul, o Citic Group e o China Development Bank. O acerto de compra de equipamentos chineses pela Companhia Siderúrgica do Pará, financiada pelo China Eximbank. E os contratos firmados pela CVRD. Apenas o gasoduto que ligará o Rio de Janeiro a Salvador atrairá um bilhão de dólares em investimento da China.

Concorrência Apesar desses investimentos, alguns setores da indústria brasileira consideram a China uma ameaça. Não foi sem motivo que eles reclamaram quando o governo concedeu o status de economia de mercado à China. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) pede imediata regulamentação das salvaguardas previstas no protocolo de transição, assinado pela China em 2001, quando de sua admissão como membro da OMC. A inquietação com a concorrência foi mapeada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que realizou uma série de estudos sobre competitividade na América Latina frente à China.

Os resultados foram debatidos por empresários e especialistas brasileiros e estrangeiros no seminário "A emergência da China - oportunidades e desafios para o Brasil", realizado no dia 2 de março na BM&F, em São Paulo. O estudo "Medo da China: existe futuro para os manufaturados na América Latina?", do economista Maurício Mesquita Moreira, do Departamento de Integração do BID, conclui, entre outras coisas, que a combinação de fatores como escala, rápido crescimento da produtividade e onipresença do Estado faz da China um formidável concorrente para os manufaturados latino-americanos. 

Diplomacia As relações diplomáticas entre Brasil e China comemoraram 30 anos em 2004. Entretanto, elas não implicaram equilíbrio - ao menos no que tange ao crescimento econômico. Em 1978, quando os chineses entraram em contato com a economia capitalista, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro era 37% inferior ao chinês. No ano passado representava menos de um terço.

Nos últimos oito anos o Brasil experimentou fortes avanços no comércio com a China, que passou a ser o seu quarto mercado. Suas exportações totalizaram 5,4 bilhões de dólares em 2004 - uma expansão de 400% em comparação com 1997. Por outro lado, as importações atingiram 3,7 bilhões de dólares. O saldo do comércio bilateral continua favorável ao Brasil, mas caiu no ano passado. A diferença passou de 2,4 bilhões de dólares em 2003 para 1,7 bilhão de dólares em 2004, interrompendo uma série de quatro anos de crescimento.

Na década de 90, o padrão do intercâmbio bilateral era do tipo Norte-Sul, isto é, o Brasil fornecia commodities minerais e agrícolas e os chineses vendiam manufaturados, como têxteis, químicos, eletrônicos e brinquedos, aos brasileiros. "Ultimamente têm aumentado as vendas brasileiras de couro e outros insumos usados na fabricação de calçados. Também crescem os embarques de autopeças, motores, produtos químicos e material de aviação. Além disso, empresas brasileiras oferecem serviço de automação bancária e engenharia", diz Amorim, da CEBC. Mas é preciso apertar o passo para não perder a corrida - que é disputadíssima.

A intenção do governo brasileiro é abrir espaço para a exportação de produtos industrializados para a China, o que exigirá intensa negociação diplomática. De acordo com Luiz Augusto de Castro Neves, embaixador brasileiro na China, "a preocupação do governo é evitar que o Brasil se torne um fornecedor de produtos primários, reservando à China o papel de provedor de bens industrializados. Por enquanto, os chineses querem comprar matéria-prima aqui e agregar valor lá, e os brasileiros querem agregar valor aqui".

Há trabalho de sobra para diplomatas e empresários nesse campo. A sugestão de Boniperti Oliveira, da Apex, que viveu 16 anos na China, é a parceria. Associadas a empresas chinesas, as brasileiras podem processar suas matérias-primas localmente com maior facilidade. "A indústria brasileira de soja tem de fazer parcerias com empresas chinesas e deixar de ser apenas fornecedora de insumos. Empresas da área têxtil deveriam investir na China, montando uma base industrial. Essa é uma boa estratégia diante da concorrência. Foi o que fizeram fabricantes gaúchos de calçados, que passaram a exportar para o mercado norte-americano a partir de lá."

 
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