2007 . Ano 4 . Edição 37 - 10/11/2007
Ana Amélia Camarano
Segundo o professor Ron J. Lesthaeghe (1995), estão em curso três revoluções que afetam, profundamente, as estruturas familiares e, conseqüentemente, a social: - revolução contraceptiva: dissociação da sexualidade da reprodução; - revolução sexual, principalmente para as mulheres: antecipação da idade à primeira relação sexual, o que ocorre devido à separação entre sexualidade e casamento; - revolução no papel social da mulher e nas relações de gênero tradicionais: homem provedor X mulher cuidadora.
Essas revoluções estão em curso em quase todo o mundo desenvolvido e, também, no Brasil. Este artigo discute a terceira das revoluções mencionadas à luz dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2006. O arranjo domiciliar predominante no Brasil é o do tipo casal com filhos, mas esta proporção vem decrescendo ao longo do tempo. Constituía 68,9% do total de arranjos em 1985 e passou a constituir 52,8% em 2006. Esse tipo de arranjo se caracteriza pela predominância de chefes homens. Observou-se, no entanto, nos últimos dez anos, um aumento expressivo de chefia feminina nesse tipo de arranjo, ou seja, formado por casais. A proporção de arranjos do tipo casal com e sem filhos chefiados por mulher passou de 4,2% em 1992 para 18,6% em 2006.
A redução na proporção de casais com filhos tem sido compensada pelo aumento dos domicílios monoparentais, principalmente os chefiados por homens.Estes são arranjos compostos por pai e filhos. No total de arranjos brasileiros, a sua proporção cresceu de 2,5% para 9,2%. No entanto,os domicílios chefiados por mulheres são os mais expressivos. A sua proporção passou de 16,9% em 1985 para 23,6% em 2006. Neste arranjo, o mais freqüente era o do tipo mãe com filhos, mas, também, em proporção decrescente. Isto se deu em prol do aumento tanto de homens quanto de mulheres morando sozinhos. A proporção de mulheres nesta categoria é mais elevada que a de homens.Porém, esta diferença vem diminuindo no tempo.
O aumento da proporção de domicílios chefiados por mulher guarda estreita relação com o aumento da participação feminina no mercado de trabalho. Esses fatores provocaram algumas mudanças nas características dos domicílios brasileiros alterando as relações tradicionais de gênero: mulher cuidadora e homem provedor. Um dos indicadores é dado pelo aumento da contribuição da renda das mulheres na renda das famílias brasileiras. Por exemplo, em 1985, a mulher era a principal provedora em 16,4% dos domicílios brasileiros. Em 2006, a proporção comparável foi de 25,6%. Mais expressivo foi o aumento da proporção de mulheres cônjuges que contribuem para a renda das suas famílias. Passou de 32,5% para 64,5%. No conjunto, entre 1992 e 2006, a contribuição da renda das mulheres na renda das famílias brasileiras passou de 30,1% para 40,1%.
Apesar de a mulher brasileira estar assumindo o papel de provedora, ela continua ainda sendo a principal responsável pelo cuidado doméstico, mesmo na condição de ocupada, o que não apresentou variações expressivas no período. A proporção de mulheres ocupadas que se dedicavam a afazeres domésticos foi de 90,4% e a de homens, de 51,1%, em 2006.Mais expressiva foi a diferença no número médio de horas trabalhadas em afazeres domésticos.As mulheres ocupadas trabalhavam, em média, 21,6 horas semanais e os homens, 9,3.
Sintetizando, a família brasileira está mudando e a mulher é uma das grandes responsáveis por isto. Ela, hoje, está assumindo novos papéis sociais, mas ainda mantém os tradicionais.
Referências Bibliográficas Lesthaegue, R. The second demographic transition in western countries. In:Mason K.O. and Jerson,A-M (eds). Gender and family change in industrialized countries,Oxford: Clarendon Press, 1995.
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