resep nasi kuning resep ayam bakar resep puding coklat resep nasi goreng resep kue nastar resep bolu kukus resep puding brownies resep brownies kukus resep kue lapis resep opor ayam bumbu sate kue bolu cara membuat bakso cara membuat es krim resep rendang resep pancake resep ayam goreng resep ikan bakar cara membuat risoles
Investimentos - O céu é o limite

2005. Ano 2 . Edição 13 - 1/8/2005

Para sobreviver num mercado globalizado, as empresas brasileiras precisam ocupar espaço no exterior, mas o país ainda não definiu que estratégia adotar nesse sentido.

 
Por Andréa Wolffenbüttel, de São Paulo

Todo brasileiro sente uma ponta de orgulho quando, ao caminhar pela 5.ª Avenida, no coração de Nova York, depara com a luxuosa loja da H.Stern. É quase impossível não parar na frente da vitrine e observar as águas-marinhas, as turmalinas e os topázios, pedras preciosas tão nacionais, que enfeitam as jóias. É bom ver uma marca local brilhando na principal via da cidade mais importante do mundo. Mas, além de fazer bem à nossa auto-estima, ter firmas globais é fundamental para um país que pleiteia um lugar à mesa de negociações ao lado das grandes potências."Não há outra opção nem outro caminho. Ou as empresas se internacionalizam, ou serão internacionalizadas à força." Assim o embaixador Rubens Ricúpero, ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento, definiu o desafio a ser enfrentado pelas grandes companhias. E, pelo que indicam os números, as brasileiras estão aceitando o conselho. No ano passado, cerca de 9,5 bilhões de dólares foram investidos por elas em operações no exterior. O valor, por si só, já impressiona, mas, se for comparado aos 250 milhões gastos em 2003, o impacto é ainda maior. Ele nos coloca no mesmo patamar de países como Itália e Suíça, que em 2003 aplicaram quantias semelhantes fora de suas fronteiras.

Porém, na visão dos especialistas, esse montante precisa se repetir por muitos anos para que o Brasil acompanhe de perto aquela que pode ser considerada a terceira onda de internacionalização das empresas. A primeira ocorreu no pós-guerra, quando as gigantes norte-americanas e européias expandiram seus negócios. A segunda foi na década de 70, quando as asiáticas seguiram o modelo. E a terceira é agora, quando a globalização transforma o mundo num só mercado, sem fronteiras, onde a competição não obedece a nenhum critério geográfico. "Há muitas firmas de ponta brasileiras que precisam reagir rapidamente. Se elas não se tornarem multinacionais, virão as estrangeiras, que tomarão o mercado, e elas acabarão sendo compradas ", alerta David Travesso Neto, gerente do projeto Global Players, da Fundação Dom Cabral, voltado para a definição de estratégias de fortalecimento da posição das empresas brasileiras no mercado internacional.

Desarticulação Na avaliação de Travesso, um dos problemas a ser enfrentado é a falta de articulação entre a iniciativa privada e o governo para a definição de uma política de internacionalização. "Não há ainda um pensamento definido sobre qual deve ser a postura brasileira nesse processo. Não há política institucional, nem para apoiar nem para dificultar. Há um discurso sobre a necessidade de termos companhias globais, mas não há prática ", diz ele.

O discurso ao qual Travesso se refere é proferido especificamente pelo titular do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC), Luiz Fernando Furlan. Em evento promovido pelo projeto Global Players, no final de maio passado, em São Paulo, Furlan disse saber que não existe país de Primeiro Mundo sem empresas de Primeiro Mundo e que é vontade do presidente Lula que o governo estimule o desenvolvimento de, pelo menos, uma dúzia de multinacionais brasileiras. Entretanto, não é fácil descobrir onde está o estímulo. A assessoria de comunicação do MDIC informou que não há ninguém no órgão que possa dar entrevista sobre a política de investimentos brasileiros no exterior. No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não foi diferente. Os assessores comunicaram que não há linhas especiais de financiamento para a instalação das empresas fora do país. Os pedidos de crédito são estudados como quaisquer outros e podem ser aprovados, mas não há nenhum tratamento diferenciado. "O problema é que os ganhos da internacionalização não são tão claros e mensuráveis, e muita gente ainda acha que investir lá fora pode ser ruim para o país porque é dinheiro que sai. As pessoas, mesmo empresários e governantes, não percebem que a internacionalização, quando bem-feita, deixa a empresa mais competitiva, agrega tecnologia, supera barreiras, abre novos mercados e facilita o acesso ao crédito. Essa falta de compreensão dificulta a criação de políticas de incentivo. "

Quase todos concordam com Travesso quando ele fala sobre as vantagens obtidas pelas firmas que investem no exterior, mas poucos acham que seja uma questão de Estado, mesmo conhecendo os exemplos de nações asiáticas, como Coréia, Cingapura e China, que implantaram estratégias agressivas para o desenvolvimento de empresas transnacionais em setores considerados por elas como estratégicos. A própria Embraer, tida como a maior empresa global privada do Brasil, acha que o governo não deve interferir no processo de internacionalização. "Essa é uma decisão interna da companhia e o governo não tem nada a ver com o assunto ", declara Henrique Rzezinski, vice-presidente executivo de relações exteriores da Embraer. Ele conta que a internacionalização se deu como conseqüência natural do mercado de aviação. Mais de 90% da produção é exportada e foi necessário estabelecer pontos de atendimento mais próximos dos clientes. "Ninguém compra um avião se não houver completa confiança na qualidade do produto e é muito mais fácil estabelecer essa confiança quando se está por perto ", diz Rzezinski. Essa necessidade levou a Embraer a ter postos de venda e manutenção nos Estados Unidos, na França e em Cingapura. Em 2002, formou uma joint venture com a chinesa Avic II e estabeleceu a primeira fábrica fora do país. No final de 2003, fez a mais recente aplicação no exterior: por 15 milhões de dólares comprou a Ogma, empresa portuguesa de manutenção de aeronaves. A próxima investida da Embraer fora do Brasil deverá ser no ramo da aviação militar nos Estados Unidos, onde praticamente todas as companhias aéreas comerciais usam aviões de fabricação brasileira.

A internacionalização da Embraer é um exemplo de operação em que o dinheiro aplicado fora país volta na forma de aumento das exportações. Para casos como esse, muitos acham que pode haver uma estratégia de incentivo oficial. Armando Castelar, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que é preciso muita cautela na hora de conceber uma política de estímulo à globalização das empresas. "Há situações em que os investimentos no exterior são prejudiciais ao país porque reduzem as vendas externas. Para esses não se justifica usar os recursos do contribuinte ", alerta. Castelar coordenou, em 2002, um amplo estudo sobre o desafio das exportações, no qual há um capítulo exclusivamente dedicado à promoção das vendas ao exterior via internacionalização das firmas. Ele constatou que, na época, dois fatores dificultavam o estabelecimento das empresas nacionais fora do país. O primeiro era a ausência de cultura e visão internacionais. O país passou décadas praticando uma intensa política de incentivo às exportações e o empresariado se acostumou a ver o mercado estrangeiro apenas como cliente, e não como um campo a ser explorado in loco. De lá para cá, o Brasil mudou de postura, começou a participar de vários eventos internacionais e a distância entre o mercado interno e o externo diminuiu. Diversas viagens presidenciais acompanhadas por comitivas de empresários também ajudaram a romper as barreiras culturais. Portanto, esse passo já foi dado. O segundo empecilho era, e continua sendo, a falta de crédito. Esse é um ponto delicado e Castelar volta a afirmar que é necessário muito critério para a definição dos setores que merecem crédito e em que condições. E ele lembra que ter empresas globais implica em sério risco: nem sempre elas permanecem brasileiras.

Ressaca Um exemplo ainda bem vivo na memória de todos os brasileiros é o caso da Ambev. A fusão das duas maiores fabricantes nacionais de cerveja - Antarctica e Brahma -, em 2000, criou uma gigante em termos mundiais, com presença em diversos países. Quatro anos depois, a belga Interbrew adquiriu mais de 20% das ações da Ambev. A empresa continua sendo majoritariamente nacional, mas passou a ser controlada por uma estrangeira e deixou um gosto estranho no paladar dos brasileiros. Em compensação, colocou a marca Brahma estampada nas garrafas que circulam por bares de mais de 20 países. A união também fez crescer significativamente a remessa de dinheiro para fora do país, pois cerca de metade dos 9,5 bilhões de dólares investidos pelas firmas brasileiras no exterior, em 2004, foram remetidos pela Ambev. Portanto, mais um desafio a ser enfrentado no inevitável caminho da internacionalização das firmas é manter um ambiente atrativo que garanta que as remessas de lucros continuem tendo como destino o Brasil. A criação dessas condições passa por problemas complexos, tais como o fortalecimento do mercado de capitais e o aumento da oferta de crédito.

Empurrão Porém, contraditoriamente ao que possa parecer, às vezes são os problemas internos que acabam acelerando a decisão de investir no exterior. Foi por causa da estagnação da economia que a Oxiteno, uma das maiores empresas nacionais do ramo de petroquímica, começou a olhar com interesse para além das fronteiras. Há cerca de três anos, os executivos perceberam que já tinham conquistado 75% do mercado do Mercosul e que não havia mais espaço para crescer dentro do Brasil. Resolveram comprar uma unidade fora do país. Estudaram diversos mercados e no começo de 2003 adquiriram, por 10 milhões de dólares, a mexicana Canamex. A nova fábrica no exterior trouxe diversas vantagens para o grupo, a maioria comum a todos os processos de internacionalização. Primeiro otimizou a produção, já que as especialidades das diversas plantas são complementares. "Nós importamos algumas coisas de lá, exportamos outras, e no final o produto sai mais barato ", conta Paulo Cunha, diretor-presidente do grupo Ultra, holding à qual pertence a Oxiteno (leia entrevista na pág. 10). Em segundo lugar, a unidade mexicana abriu as portas do mercado norte-americano por meio do acordo de livre-comércio, Nafta, existente entre os dois países. E, por fim, a Oxiteno teve acesso a linhas de crédito com prazos e juros muito mais amigáveis do que os praticados atualmente no Brasil. Foi com financiamentos obtidos no exterior que a Oxiteno comprou, no final do ano passado, a operação da francesa Rhodia-Ster no México. Cunha conta que, na ocasião da compra da Canamex, tentou financiamento no BNDES, mas não obteve sucesso. Porém ele não reclama. Acha que o governo deve ajudar as empresas brasileiras que queiram se estabelecer no exterior, mas não necessariamente com recursos financeiros. "O que mais sentimos falta é de um apoio político, por exemplo, do Itamaraty. " Ele lembra que, na década de 60, o grupo Ultra fez uma experiência de distribuição de gás na Nigéria. A operação funcionou e deu lucro, mas a companhia não conseguiu jamais tirar o dinheiro de lá e trazê-lo para o Brasil. "Acabamos tendo de vender tudo à Mobil Oil, e eles, com a pressão do governo norte-americano, em pouco tempo estavam remetendo os lucros para a matriz " conta Cunha.

Novidade O governo tem procurado suprir essa demanda com o fortalecimento de suas agências comerciais no exterior e também com maior presença em fóruns e eventos internacionais, mas ainda está longe de ter uma rede de amparo que dê tranqüilidade ao investidor. Porém, independentemente das muitas dificuldades, os analistas concordam em um ponto: a curva ascendente da globalização das empresas brasileiras é uma tendência concreta e sustentável. Mesmo setores em que o Brasil tem pouca tradição começam a aventurar-se em terras estrangeiras. É o caso da Natura, que em abril passado, inaugurou sua loja no elegantíssimo bairro de Saint-German-de-Près, em Paris. A Natura já atuava na América Latina desde 1994, onde tem uma rede de representantes nos moldes da mantida no Brasil. Porém, com a loja francesa, a empresa adota nova política de vendas e mostra que se sente madura para enfrentar o mais exigente mercado do mundo em termos de cosmética e perfumaria. O investimento total na operação francesa deve ficar em torno de 20 milhões de dólares, que serão desembolsados ao longo de três anos. "Queremos difundir a marca. Assim, levamos apenas a linha Ekos, que ressalta a biodiversidade brasileira ", declara Philippe Pommez, vice-presidente internacional da Natura. Isso quer dizer que cheiros e cores bem brasileiros, tais como pitanga, maracujá e andiroba, desembarcaram na França em forma de sabonetes, cremes e colônias. Agora, aquela ponta de orgulho que surge na 5.ª Avenida também aparece diante do número 2 do Carrefour de la Croix-Rouge, assim como em várias esquinas de Buenos Aires, onde se vêem fotos de garrafas geladas da cerveja Brahma, e também nos céus norte-americanos, onde os aviões fabricados em São José dos Campos não páram de transportar os passageiros que cruzam o imenso país. O processo de internacionalização das empresas brasileiras está acontecendo, talvez de forma desarticulada e temerária, mas ele é a única maneira de sobreviver na economia globalizada do século XXI.

 
Copyright © 2007 - DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação sem autorização.
Revista Desafios do Desenvolvimento - SBS, Quadra 01, Edifício BNDES, sala 1515 - Brasília - DF - Fone: (61) 2026-5334