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Setor Público - Capital imaterial

2005. Ano 2 . Edição 13 - 1/8/2005

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada com ministérios e empresas estatais revela a importância da gestão do conhecimento para a melhoria da eficiência e dos serviços prestados. Mostra ainda que falta uma política geral para colocar o tema na lista de prioridades.

 
Por Lia Vasconcelos, de Brasília

Na década de 80 a palavra de ordem dentro das empresas era qualidade. A reengenharia assumiu o centro do palco na década de 90. No começo do século XXI, o grande desafio é gerir o conhecimento criado e recriado diariamente num mundo em que o fluxo de informações cresce de forma exponencial - estimativas revelam que o volume de dados circulando no planeta dobra a cada 18 meses. A informação assume papel estratégico, mais poderoso que máquinas ou equipamentos, trabalho físico ou polpudas contas bancárias. É um capital imaterial, que pode ser o diferencial competitivo das corporações.

Um bom exemplo é o caso do microchip, que revolucionou a indústria eletrônica e abriu as portas do mundo digital. Seu valor reside, sobretudo, no conhecimento necessário para sua produção, pois é feito principalmente de silício, um elemento encontrado na areia. Nessa nova realidade, a mais importante tarefa econômica passa a ser administrar, armazenar, vender, disseminar e compartilhar o conhecimento, dentro e fora de uma organização, seja ela pública ou privada. E para isso recentemente surgiram práticas, batizadas de gestão do conhecimento, ligadas às áreas de recursos humanos e tecnologia da informação.

O tema virou mantra nas empresas mais competitivas do setor privado e agora começa a ganhar espaço no setor público brasileiro, como mostra o estudo "Gestão do conhecimento na administração pública ", de junho de 2005, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O principal objetivo do trabalho era fazer um diagnóstico de como o conhecimento vem sendo tratado em 28 organizações da administração direta federal (ministérios e a Controladoria-Geral da União, bem como os três comandos das Forças Armadas) e seis empresas estatais. Revelou a existência de iniciativas ainda tímidas no campo da gestão do conhecimento, que resultam de ações isoladas e esforços pulverizados. Ademais, existe pouca informação sobre o tema, especialmente na administração direta, pois 40% dos ministérios consideram a preservação do conhecimento um assunto estratégico e apenas 28% colocam o tema no topo da lista de prioridades. De forma geral, as empresas públicas estão mais adiantadas no esforço de formalizar e implementar práticas de gestão do conhecimento. As estatais analisadas foram Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Eletrosul Centrais Elétricas, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Petrobras e Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). No caso das estatais pesquisadas, o estudo apontou que os objetivos na área de gestão do conhecimento têm de estar alinhados com as estratégias da corporação, ou seja, antes de mais nada a empresa estabelece suas prioridades e só então cria práticas que apóiem as diretrizes iniciais.

Eficiência Quando a sociedade cobra a melhoria da eficiência do setor público, a gestão do conhecimento ganha mais importância, pois tem relação direta com a capacidade de inovação. "Incentivar a criação de novos conhecimentos e preservar o que já existe é um estímulo à inovação ", afirma Fábio Ferreira Batista, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, coordenador do estudo sobre o setor público federal. Além disso, "a gestão do conhecimento no setor público pode ser muito importante para recuperar a capacidade de governança do Estado brasileiro ", sustenta Fernando Pacheco, assessor de planejamento e desenvolvimento da Escola de Governo do Paraná e um dos autores da pesquisa do Ipea. Para ele, a adoção de tais práticas ajudará a otimizar o uso dos recursos orçamentários e a atender à demanda crescente por serviços públicos de qualidade.

O estudo detectou obstáculos para a implementação de processos de gestão do conhecimento, como a inexistência de indicadores, a dificuldade de capturar o conhecimento não documentado, deficiências de capacitação do pessoal e a falta de tempo ou de recursos para compartilhar o conhecimento de forma concreta na rotina diária. "O processo não é fácil ", conta Isamir Carvalho, coordenadora do comitê permanente de gestão do conhecimento organizacional do Serpro, vinculado ao Ministério da Fazenda. Até porque as iniciativas da instituição foram postas em prática pelos próprios funcionários, sem a ajuda de consultoria externa. "Destacamos grupos com a missão de descobrir os caminhos para viabilizar nossos planos. A construção da nossa árvore do conhecimento levou seis meses e tivemos mais um tempo de ajuste, cerca de seis meses também, para treinar todo mundo ", conta.

O Serpro é a maior empresa pública brasileira de prestação de serviços em tecnologia da informação. São cerca de 8,6 mil funcionários espalhados pelo Brasil inteiro. Uma das práticas mais bem-sucedidas da organização, que elegeu, em 1999, a gestão do conhecimento como uma de suas prioridades, é a árvore do conhecimento, uma estrutura eletrônica de classificação de temas, ramos e assuntos. Os conteúdos ficam disponíveis a todos os funcionários da organização (alguns com amplo nível de acesso, outros mais restritos) por meio da intranet, um portal interno da empresa que facilita o acesso dos colaboradores às informações corporativas. Todos os funcionários podem - e devem - enviar documentos à árvore, que antes de incluídos são analisados pelos gestores de conteúdo de cada departamento. Já fazem parte da árvore cerca de 6 mil documentos.

 

"A idéia é que os funcionários possam registrar, compartilhar e reutilizar os conhecimentos disponíveis. Essa dinâmica proporciona mais rapidez e evita retrabalho, o que culmina numa melhora dos serviços prestados pela empresa ", acredita Carvalho. Outra iniciativa é a chamada gestão por competências, cujo objetivo é registrar e administrar as informações relativas aos conhecimentos dos funcionários, o que permite que a empresa saiba o que os seus colaboradores sabem. Assim, é possível evitar problemas quando um funcionário detentor de conhecimentos específicos se afasta ou se aposenta.

No Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), foi montado, há dois anos, um comitê para cuidar especificamente da gestão do conhecimento produzido dentro da organização. Para sensibilizar os funcionários, a empresa lança mão de palestras para explicar os conceitos e apresentar as boas práticas que devem ser replicadas. "A mobilização era pequena no início, mas o interesse vem crescendo. Essa tem sido nossa maior dificuldade porque o programa implica na adesão de todos para dar certo. A mudança da cultura dentro de uma organização não é algo trivial ", afirma Paulo Roberto Braga e Melo, chefe da divisão de informação tecnológica do Inmetro.

Parceria "É fundamental criar programas de sensibilização porque muita gente não entende o que é gestão do conhecimento. Em geral, o processo apenas está começando na área pública e ainda há muito a caminhar ", diz Paulo Fresneda, coordenador do comitê técnico de gestão do conhecimento e informação estratégica do governo federal. O comitê foi criado em 2003 com o objetivo de centralizar as informações federais sobre o assunto, promover trocas de experiências e formular uma política pública de gestão do conhecimento. Para incentivar uma mudança nesse cenário, o comitê está tomando duas providências: uma série de cinco eventos em diferentes capitais em parceria com a Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC) e o planejamento de um programa de capacitação para os diversos níveis dos órgãos federais em conjunto com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap). A escola já oferece uma disciplina em gestão do conhecimento para os cursos de especialização, além de, internamente, promover a sistematização de um banco de dados com informações de seus alunos e colaboradores.

O Banco do Brasil (BB) também colocou a gestão do conhecimento como meta prioritária em 2001, quando criou a Universidade Corporativa para solucionar um problema: como levar educação a seus cerca de 84 mil funcionários espalhados pelo país inteiro? Além de oferecer cursos de formação profissional (graduação e pós-graduação), a universidade promove programas de capacitação, sempre a distância, por meio da intranet, da TV corporativa e de apostilas de estudo. No total, são 150 mil diferentes opções de treinamento por ano. Pedro Paulo Carbone, gerente executivo de educação corporativa do BB, explica que a gestão por competências e a disseminação e o compartilhamento da informação são práticas no âmbito da universidade. "Esse mapeamento das competências permite ao banco esquadrinhar se há algum gargalo entre o que o funcionário sabe e o conhecimento exigido pelo cargo. Isso nos permite criar programas específicos que ajudam as pessoas a alcançar a competência numa função específica. " Um sistema eletrônico registra as melhores práticas de cada agência e permite a disseminação e o compartilhamento da informação, explica. "Para aprender a usar essas ferramentas e ter acesso a todas as informações, os funcionários passam por duas semanas de treinamento logo que entram no banco ", informa Carbone.

Portal Em 1999, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desenvolveu um conjunto de sistemas de informação e bases de dados, batizado de Plataforma Lattes, para auxiliar na gestão do conhecimento da produção científica brasileira. A intenção era promover a integração de toda a produção tecnológica, científica, artística e cultural do país. O projeto, já maduro e de âmbito nacional, transformou-se num portal com acesso gratuito em que professores, pesquisadores, estudantes e outros interessados cadastram seu currículo e grupos de pesquisa, formando uma enorme base de dados pública. Nesses seis anos de atividade, a Plataforma Lattes já acumula 550 mil currículos e 20 mil grupos de pesquisa. "A Plataforma viabiliza a construção de indicadores e a análise das múltiplas facetas da geração e incorporação de conhecimento na sociedade, de uma forma até então fora do nosso alcance ", acredita Evando Mirra, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e um dos idealizadores da Plataforma, quando foi presidente do CNPq. "É uma inovação que produz forte impacto, pois garante a cada instituição um conhecimento inédito de suas realizações. Além disso, permite uma visão integrada da pesquisa e do desenvolvimento em curso no país, cria novas articulações entre os atores e abre espaços de inteligência para intervenções bem informadas das agências e dos organismos públicos e privados promotores e usuários da pesquisa ", avalia.

Para que essas iniciativas deixem de ser fruto de iniciativas isoladas e esforços pulverizados e passem a ser práticas constantes e rotineiras, o estudo do Ipea considera fundamental a definição de uma política geral de gestão do conteúdo por parte do governo e elenca algumas prioridades: criação de unidades específicas ou comitês formais de gestão do conhecimento nos ministérios, com a atribuição de propor e implementar estratégias e coordenar ações; a instituição de um comitê interministerial para definir um plano de ação governamental em relação ao tema; e montagem de programas de sensibilização e capacitação permanentes em gestão do conhecimento para a alta administração, chefias intermediárias e servidores em geral.

A inteligência e a imaginação assumem papel cada vez mais importante na criação de valor. Mas não é fácil, mesmo no setor privado, colocar a gestão do conhecimento no centro da preocupação das organizações, pois envolve mudanças culturais e comportamentais. É preciso criar mecanismos de motivação para que os especialistas compartilhem seu saber com seus pares. E desenvolver a cultura de uma economia de rede, com cada membro da equipe sincronizado com os outros. Ajuda, nesse processo de mudança cultural, a adoção de práticas de gestão do conhecimento, como a criação de "árvores " que organizam os dados, ou seja, o registro de informações fundamentais sobre processos, produtos e serviços de uma empresa. Outra forma é a instituição das narrativas, que são técnicas para debater assuntos complicados, compartilhar as lições aprendidas e trocar experiências e opiniões.

"É muito importante criar um processo de sensibilização, porque a gestão do conhecimento implica um misto entre mudança de cultura, treinamento de pessoas e emprego de novas tecnologias e processos ", afirma Elizabeth Gomes, diretora da SBGC. Sabiamente, já dizia Jonh Donne, poeta inglês do século XVI, que "nenhum homem é uma ilha, sozinho em si mesmo; cada homem é parte do continente, parte do todo ". Afinal, o conhecimento é hoje o recurso estratégico mais importante da nossa era e torna-se ainda mais poderoso quando compartilhado.

Saiba Mais:
- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
www.ipea.gov.br
- Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento (SBGC)
www.sbgc.org.br
- Plataforma Lattes
http://lattes.cnpq.br

 
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