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Agronegócio - O avanço argentino

2005. Ano 2 . Edição 16 - 1/11/2005

A produção de soja e derivados envolve mais de 240 mil trabalhadores diretos e é uma das principais fontes de divisas do país. Mas os brasileiros começam a perder para os argentinos na exportação de farelo e óleo do grão


Eliana Simonetti

Os resultados obtidos pelo Brasil no comércio exterior são positivos. Entre janeiro e outubro deste ano, o saldo da balança comercial foi superior a 34 bilhões de dólares. O país ocupa a segunda posição no ranking dos produtores de soja. Perde apenas para os Estados Unidos. Os indicadores induzem à conclusão de que tudo corre bem, mas as coisas não são bem assim. Técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que a safra brasileira de grãos de 2005 será 4,71% inferior à de 2004. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (Cepea/USP) prevêem que o Produto Interno Bruto (PIB) da agricultura será 14,6% inferior ao alcançado no ano passado. Este não é um bom ano para o produtor rural. O clima tem andado indócil. Ocorrem secas e chuvas nos locais e nos momentos errados. Mas, além dos incontroláveis elementos da natureza, há os problemas econômicos. Falta crédito, a infra-estrutura é insuficiente, o real está sobrevalorizado e impostos e burocracia inibem investimentos. Uma conjunção de fatores que prejudicam a produção, a competitividade do produto e sua exportação. Considerando a estimativa feita pela CNA e pelo Cepea de que 1 real gerado no campo resulta na criação de 2,56 reais em setores como os de beneficiamento, de transporte e de comercialização, o caso toma proporções ainda mais preocupantes.

Os que ainda acreditavam na frase do português Pero Vaz de Caminha de que "Nesta terra, em se plantando tudo dá" tomaram um susto. Descobriram que nada é assim tão simples. "Os recordes mundiais de taxa de juro real e de valorização da moeda nos últimos 12 meses estão matando a competitividade do agronegócio brasileiro", diz o engenheiro agrônomo André Pessôa, sócio da empresa de consultoria Agroconsult. "Em 2006 e 2007 haverá nova redução da área plantada, talvez maior do que o recorde negativo atual, de 2 milhões de hectares. Corremos o sério risco de que ocorra algo que sempre nos pareceu impensável: a Argentina superar o Brasil na produção de soja." Hoje os brasileiros já perdem para os argentinos na exportação de farelo e óleo de soja e na atração de investimentos para o setor. "O Brasil é, nos últimos três anos, o maior exportador mundial do conjunto de produtos de soja (grão, farelo e óleo). Mas a Argentina é maior na exportação de farelo e óleo. Nesses itens eles são mais competitivos", reconhece Armando Meziat, secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Vizinhos, sócios e parceiros no Mercosul, Argentina e Brasil competem com garra quando saem pelo mundo. Não estabeleceram uma estratégia de negociação comum diante de terceiros. A situação demanda providências, já que a cadeia da soja envolve mais de 240 mil trabalhadores e é uma das principais fontes de divisas do país.

Desinvestimento Segundo dados do IBGE, a agroindústria registrou crescimento modesto em 2004 - apenas 0,3%. O setor industrial como um todo cresceu 5%. A observação cuidadosa do complexo da soja revela movimentos indesejáveis. A Archer Daniels Midland (ADM), com sede nos Estados Unidos, é a maior processadora de grãos do mundo. Investiu pesado na produção de farelo, óleo e proteínas especiais no Brasil. No entanto, neste ano fechou duas de suas indústrias gaúchas. Motivo: transportar grãos de outros estados para o Rio Grande do Sul, onde houve quebra de safra, seria um esforço contraproducente. O custo seria maior do que o faturamento. "A estrutura tributária do país é péssima e prejudica a cadeia produtiva", diz Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Sílex Trading e ex-secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento. "Há acúmulo de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) quando o produto viaja por vários estados, e de PIS/Cofins (Contribuição para o Financiamento Social), convertido em créditos nunca compensados."

A Bunge Alimentos, multinacional de origem holandesa, tem investido no mundo inteiro. Nos últimos tempos comprou uma indústria de óleo de cozinha na Rússia, uniu-se à francesa Sofiproteol na Europa para fazer combustível com óleos vegetais, construiu um terminal portuário para grão e óleo de soja na Turquia e comprou a esmagadora de soja Sanwei Group em Rizhao, cidade portuária chinesa. No Brasil, fechou uma planta em Cuiabá, no Mato Grosso. As portas de outras marcas também foram baixadas. "A questão é que os países emergentes estão interessados em comprar grãos de soja e beneficiá-los em seu território, pois isso resulta na criação de empregos. O Brasil terá de abrir mercados para produtos com maior valor agregado em vez de apenas atender à demanda existente", diz o economista Rogério Freitas, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O movimento de retração se repete no campo. Os paranaenses não estão comprando novas sementes: aproveitam as sobras de outras safras. No Rio Grande do Sul, depois da estiagem que pôs a perder 70% da última safra, muitos agricultores estão migrando para o trigo e o milho, cuja cotação é mais alta no mercado internacional. O governador Blairo Maggi, maior produtor individual de soja do mundo, já previu que 20% da área do Mato Grosso que antes dava grão será destinada a outros cultivos. As ações do governo federal restringiram-se à liberação de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), para a renegociação de dívidas entre produtores e fornecedores, e à prorrogação do custeio da safra. Até o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, declarou-se frustrado. Criticou o câmbio, a falta de recursos orçamentários, a taxa de juro, e ainda alertou que, se a situação não mudar, o país terá de importar alimentos em 2006. Segundo ele, os indicadores da crise são inúmeros: queda de 40% no uso do calcário, de 16% no uso de fertilizante, de 25% no uso de semente, de 20% na utilização de defensivos e de 17 bilhões de reais na renda agrícola entre 2004 e 2005. "Falta ao país uma política contínua, um projeto sustentável de apoio ao produtor rural", diz Rogério Freitas, do Ipea. Vizinho Bom para a Argentina, que depois de mergulhar num poço que parecia não ter fundo em 2001 e 2002, tem crescido à taxa média de 7% ao ano. O presidente Néstor Kirchner, que completa dois anos de mandato, está rindo à toa. Os produtos agropecuários para exportação foram os principais responsáveis pela recuperação econômica do país. A safra de soja colhida em outubro foi recorde, de 38,85 milhões de toneladas. A produtividade do campo aumentou 20% em um ano. O Ministério da Agricultura estima que, em 2008, a produção argentina de soja atinja 100 milhões de toneladas - o dobro da produção brasileira atual. E há fortes investimentos na indústria, na armazenagem e em logística portuária. A Argentina registrou crescimento de 2,4% na industrialização do grão neste ano. Atrai investidores por várias razões. "Os custos de produção são inferiores aos brasileiros e o câmbio é favorável ao comércio externo. Os exportadores são restituídos dos impostos pagos ao governo", diz César Borges de Souza, vice-presidente da Caramuru Alimentos, a maior empresa de capital nacional do setor. Neste final de ano o Congresso argentino cortou à metade o imposto de valor agregado sobre fertilizantes - o que resultará numa economia de 250 milhões de dólares por ano para os produtores. E não é só. "A Argentina tem um sistema de incentivo à industrialização, especialmente de produtos para exportação, seus produtores estão localizados próximos dos portos e as fábricas são de última geração. Toda a logística do país é melhor do que a brasileira", diz Sérgio Mendes, presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais. A americana Cargill, que desativou plantas no Brasil, comprou a argentina Finexor, exportadora de carne - uma forma bastante lucrativa de vender soja no mercado externo.

"O Brasil deveria aprender a lição. É muito mais vantajoso exportar soja na forma de carne do que em grão", diz João Carlos Souza Carvalho, agrônomo pesquisador do Ipea. As receitas brasileiras com a exportação de carnes batem recordes todos os meses e, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a carne suína é o item que mais cresce. A Coopercentral Aurora, de Chapecó, em Santa Catarina, um dos maiores conglomerados agroindustriais do país, fabrica rações e exporta carne. "A maioria da proteína presente na carne suína é de origem vegetal, principalmente da soja. Um dos principais insumos das dietas de suínos é o farelo de soja. Também é usada a soja desativada, um produto integral sem os fatores antinutricionais presentes na soja crua", diz o veterinário Romário Prezutti Ribeiro, especialista em nutrição da cooperativa.

Os observadores estrangeiros têm notado que o Brasil corre o risco de perder uma das grandes oportunidades de sua história. Numa reportagem publicada no jornal inglês Financial Times, "Rei das plantações: o enorme coração do Brasil está gerando fazendas que podem alimentar o mundo", o repórter Alan Beattie afirma que o Brasil é o pivô no jogo que definirá o futuro dos negócios globais. Um elogio e tanto, seguido de um tranco. "No entanto, nenhum país, nem mesmo o Brasil, se tornará rico exportando apenas commodities - especialmente considerando que elas tendem a ter o preço declinante." Um estudo sobre as perspectivas agrícolas do planeta para o período de 2005 a 2014, elaborado por técnicos da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do braço da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), segue mais ou menos a mesma trilha. Afirma que o Brasil deverá superar os Estados Unidos no comércio global de oleaginosas nos próximos dez anos. Traz, entretanto, duas notas. A primeira: "O acirramento da concorrência mundial entre exportadores de oleaginosas provocará um novo ciclo de queda nos preços dos produtos agrícolas nos próximos dez anos". A segunda: "Muito depende da estabilização econômica e do ajuste cambial, que influenciam a competitividade do país".

Da forma como está, o país não enriquece. A face mais visível da crise agrária, no momento, é a febre aftosa, que tem prejudicado as exportações de carne bovina. Mas ela atinge outros setores. A soja especialmente. O grão tem sido negligenciado. A soja é considerada tão importante para a alimentação, para a saúde e para a economia que os investimentos em pesquisa não param de crescer no planeta. Há novidades surgindo a todo o momento. Os laboratórios farmacêuticos americanos AstraZeneca e Novartis entraram em acordo para criar a Syngenta, especializada na investigação de melhoramentos do grão. "O Brasil praticamente não experimenta grandes avanços nessa área há 30 anos", diz o engenheiro agrônomo e pesquisador de economia rural Antonio Carlos Roessing, que trabalha na unidade de soja da Embrapa no Paraná. A empresa, responsável por 60% da oferta de semente de soja no país e pela melhora da qualidade do grão, reivindica prioridade para as pesquisas nesse setor. "Nossa esperança é que a Lei de Inovação estimule maior interação entre as universidades e as empresas, para que o trabalho ganhe impulso e possa haver benefícios para o país", acrescenta Jaime Amaya-Farfán, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Infra-estrutura Com a objetividade que é peculiar aos japoneses, o presidente do grupo Tomen Corporation do Brasil, Kenji Yamazaki, resume as vantagens e as desvantagens do Brasil. Os itens positivos: o enorme potencial de terras cultiváveis (três vezes maior do que o norte-americano), o solo rico e o clima ameno. Os negativos: a pobreza da logística de transportes, as altas taxas cobradas nos portos e a baixa capacidade de armazenagem. "Existem dois problemas mais graves que prejudicam o Brasil. Um é a volatilidade cambial. Na Argentina, o câmbio está estável há três anos. O outro é logístico. Os argentinos têm muitos portos no rio da Prata, e eles são mais modernos e econômicos do que o de Santos e o de Paranaguá", diz. O grupo Tomen, de origem japonesa, está há mais de 65 anos no mercado brasileiro. É uma trading especializada na exportação de produtos alimentícios, com uma rede de 470 subsidiárias em mais de 60 países.

Os problemas de infra-estrutura e logística não são poucos. A rodovia que liga Cuiabá, no Mato Grosso, a Santarém, no Pará, por onde circula uma infinidade de caminhões carregados de soja, não tem pavimentação. Muitas outras se encontram no mesmo estado. A cada buraco, alguns grãos saltam das carrocerias e fazem a alegria da bicharada. O produtor perde. A maior parte da soja brasileira viaja de caminhão, a um custo alto, enquanto em outros países é transportada em hidrovias e ferrovias, mais econômicas. Os portos são mal aparelhados e a burocracia atrasa o embarque. Cálculos de empresários apontam que a logística é responsável por um acréscimo de 30% no preço dos produtos nacionais. "Se a safra brasileira crescer à taxa média de 12% ao ano na próxima década não haverá como escoá-la e, havendo queda no preço internacional, o custo do transporte tornará o produto nacional menos competitivo", diz Carlos Campos, pesquisador do Ipea dedicado à área de infra-estrutura.

Já se notam, entretanto, alguns sinais de que as coisas começam a mudar. São exemplos esparsos neste país imenso, mas que fazem alguma diferença. Portos, hidrovias e ferrovias estão sendo construídos ou modernizados por empresários, em parceria com organismos públicos(leia reportagem Novo modelo em teste). "Para os empresários da soja, o custo aceitável para o transporte, hoje, é 35 dólares por tonelada. Quando esse valor é superado ou o preço da soja cai, eles buscam uma alternativa. Os dados demonstram que de uma maneira ou de outra os gargalos estão sendo superados", diz Carlos Campos. César Borges de Souza, da Caramuru, está entre os que investem em novas plantas, em hidrovias e em ferrovias. "O tamanho médio da indústria argentina de beneficiamento de soja é três vezes maior do que o da brasileira e, com escala, seu custo é bem menor", diz. "Temos de reagir ou perderemos mercado.

 

Reação Com o cinto apertado, os produtores e exportadores estão mesmo começando a reagir. O braço de prestação de serviço de logística para exportadores da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) integra ferrovias e portos e viabiliza negócios no setor de agricultura. Movimenta anualmente cerca de 10 milhões de toneladas de produtos do campo - mais da metade são grãos de soja. Na divulgação de seus últimos resultados, no final de outubro, a Vale anunciou que já exporta mais grãos do que minério. Há outras boas notícias no que diz respeito à infra-estrutura. As conexões entre terminais e as principais vias e acessos do porto de Santos, um dos mais importantes do país, estão em reforma. E a Ferronorte implantará um sistema logístico de cargas na margem esquerda do porto. Quando entrar em funcionamento, um trem carregado com soja ou farelo descarregará e será imediatamente carregado com fertilizantes e enxofre para retornar aos agricultores. O Terminal Portuário Cotegipe, do grupo alimentício M. Dias Branco, na Bahia, é bem equipado e tem silos com capacidade para mais de 100 mil toneladas de grãos. Novos silos e armazéns são bem-vindos. O Brasil tem capacidade para guardar 103 milhões de toneladas, mas apenas 60% dos armazéns têm condições de estocar produtos do agronegócio. Muitos deles, construídos há mais de 30 anos, estão em petição de miséria. Resultado: o país só consegue manter em boas condições a metade de seus grãos.

Em meados de outubro, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou a liberação de verbas para a aquisição de 269 vagões ferroviários de carga pelo grupo japonês Mitsui. Eles serão alugados à Brasil Ferrovias e servirão para o transporte de grãos para exportação. A Agência de Promoção das Exportações do Brasil (Apex Brasil), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, organiza 550 eventos no exterior todos os anos para divulgar produtos brasileiros. Em setembro levou empresas nacionais à maior feira de alimentos e bebidas do Leste Europeu, a Polagra Food 2005, na Polônia. Fabricantes de derivados de soja de alto valor agregado, como sucos, leites e queijos, estavam presentes. A Biofach, maior feira mundial de produtos orgânicos realizada em Nurembergue, na Alemanha, no início do ano, contou com mais de 2 mil expositores de 70 países. O Brasil se destacou. Mais de 100 expositores abriram perspectivas de negócios num mercado que movimenta mais de 30 bilhões de dólares ao ano. O efeito do trabalho de marketing já pode ser constatado. A GaMa, empresa nacional familiar com 12 anos de existência, detém mais de 80% das vendas externas de grãos para consumo humano. Seu diferencial é a produção de soja orgânica. Vende para América Central, Europa, Estados Unidos e toda a Ásia, inclusive o Japão. "A alta qualidade da soja que produzimos é resultado do controle do produto da semeadura à exposição no ponto-de-venda, e de testes de transgenia, realizados em laboratórios americanos que guardam as amostras por um ano", diz Leonardo Nasser Gardemann, diretor de marketing. "Hoje, quase toda a safra nacional é de grãos para extração de óleo e para ração animal. Para fazer leite de soja é necessário um grão diferenciado, limpo, com alto índice protéico. Os dois tipos são tão diferentes como o ouro e o ferro."

Sucesso Há outras empresas que têm sabido aproveitar as oportunidades que se apresentam - e competir com sucesso no mercado externo. Um exemplo é a Cocamar Cooperativa Agroindustrial, de Maringá, no noroeste do Paraná, que reúne 7 mil plantadores (76% dos quais são pequenos produtores). Oferece insumos, assistência técnica, acompanhamento de plantio e armazenagem aos sócios, compra o grão e cuida da industrialização. De seu parque industrial saem, além do óleo e do farelo, alimentos como bebidas, maioneses, creme e condensado (que concorrem, nas gôndolas dos supermercados, com o creme de leite e com o leite condensado). Hoje, 7% do que produz é exportado, e a tendência é de crescimento. Em 2006 dobrará sua capacidade. Os sucos à base de soja representam 10% da produção da Sucos Del Valle do Brasil - subsidiária da mexicana Jugos Del Valle, com fábrica em Americana, no interior de São Paulo - e são vendidos para 30 países, entre os quais Japão, China, Rússia, Holanda e Estados Unidos. "O crescimento do segmento de bebidas com soja, de 48% neste ano, justifica que a Del Valle continue investindo no país", diz Carolina Santoro, gerente de exportação.

Outra boa história é a da Sakura Nakaya Alimentos, empresa nacional fundada há 65 anos que produz mais de 160 itens. Neste ano ela colheu sua primeira safra, no Triângulo Mineiro, livre de organismos geneticamente modificados e com alto teor de proteína. "Exportamos para países latino-americanos e, mais recentemente, para os Estados Unidos e o Japão. O fato de não utilizarmos sementes transgênicas tem contribuído para aumentar o interesse por nossos produtos", diz Roberto Ohara, diretor de desenvolvimento e responsável pelas vendas externas. As exportações da Sakura têm crescimento médio anual de 50% e a empresa pretende ampliar seu parque fabril e os investimentos em pesquisa e desenvolvimento de produtos e tecnologias. Apenas mais um caso: a The Solae Company, maior fabricante de proteína de soja do planeta, resultante de uma joint venture entre a Bunge e a DuPont, tem uma indústria em Esteio, na região metropolitana da capital gaúcha. "Exportamos 40% do que produzimos - inclusive para a Argentina", diz Jordan Rizetto, diretor regional de marketing para a América Latina e a África. A proteína de soja é um produto de alto valor agregado utilizada em embutidos de carne, iogurtes e alimentos funcionais. Rizetto surpreende ao afirmar: "Os problemas de infra-estrutura são uma eventualidade e os tributos não são um entrave para o trabalho no Brasil".
Conclusão? Bem, a natureza é generosa, mas não faltam problemas que inibam o crescimento, a competitividade e a rentabilidade do produto nacional. Se mesmo com eles há casos de empresas bem-sucedidas, é possível imaginar o que aconteceria se as travas fossem eliminadas. A essa altura do campeonato, com a Argentina em seus calcanhares, o país tem de se apressar. Não porque Brasil e Argentina devam manter a tradição de rivalidade na economia, como no futebol e na liderança entre os países latino-americanos, mas porque facilitar o fluxo dos negócios é do interesse das contas nacionais, das empresas e de toda a população, que carece da criação de postos de trabalho e de riqueza.

Algumas pesquisas para melhorar o aproveitamento da soja

- Um composto de bactérias desenvolvido na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em Piracicaba, aumenta o peso de algumas variedades e resulta em maior produtividade. O pulo-do-gato foi a identificação de fungos inibidores do crescimento de microrganismos que provocam doenças na planta.

- O Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Uberlândia (Iciag/UFU) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV) desenvolvem variedades comerciais de soja. A variedade UFU Imperial produziu, em dois anos de experimentações, a média de 4.227 quilos por hectare, mais do que as variedades cultivadas no cerrado. A descoberta traz outras vantagens. As indústrias que incluem a soja nos alimentos usam técnicas para evitar que seus produtos carreguem o gosto forte do grão. Com as novas variedades (a UFU Imperial e as BRS 213 e BRS 216, da Embrapa), os tratamentos são desnecessários.

- Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Jaboticabal e em São José do Rio Preto, no interior do estado, misturaram açúcar e óleo de soja. Criaram um praguicida de pequeno impacto ambiental e baixo custo que combate ácaros de seringueiras e pragas que atacam o amendoim e plantas ornamentais.

- Um detergente para a recuperação de solos contaminados por petróleo, feito de resíduos industriais de óleos de soja, foi desenvolvido no Instituto de Biociências da Unesp em Rio Claro, no interior de São Paulo.

- Circula no campus da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto um ônibus movido a biodiesel, pouco poluente, de álcool de cana-de-açúcar misturado a óleos de soja, girassol ou dendê. O biodiesel também está sendo testado em carros, caminhões, tratores, locomotivas e geradores de energia elétrica. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) definiu que de 1.º de janeiro de 2006 a 13 de janeiro de 2008 todos os motores deverão ter 2% de biodiesel adicionado ao diesel. Em 2013, o volume deverá subir para 5%. Para obter mais informações, visite o site www.biodiesel.gov.br

 
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