2008 . Ano 5 . Edição 43 - 17/05/2008
Carlos Wagner de Oliveira e Daniel da Mata
Há uma diversidade de fatores que afetam a formação e a dinâmica econômica das cidades espalhadas pelo mundo. Muitas delas têm na migração a base da oferta do fator trabalho e se desenvolvem atraindo migrantes qualificados. Apesar desse fato, poucos estudos se dedicam a entender as características das cidades que são determinantes para a decisão do migrante de se estabelecer.
Recentemente, em artigo escrito em conjunto com pesquisadores e consultores do Ipea, procuramos preencher parte dessa lacuna no país e averiguar que determinantes são esses para uma classe específica da população: a mãode- obra qualificada. Pressupomos, de início, que migrantes qualificados seriam aqueles com pelos menos um ano do ensino superior cursado, o que significa pessoas com mais do dobro da escolaridade média da população brasileira.
A fim de apontar evidências sobre o tema, foi elaborado um índice de migração qualificada para as cidades brasileiras, que consiste na diferença entre imigrantes e emigrantes qualificados, ponderado pela população total da localidade. Isto é, quanto maior o indicador, maior a entrada e participação dos migrantes qualificados na população total da localidade.
Águas de São Pedro (SP) foi a localidade brasileira com maior índice. Entre municípios com maior população, a fim de capturar fluxos migratórios mais expressivos quantitativamente, São Paulo (SP) teve o maior índice de migração qualificada. Regiões dinâmicas em termos do mercado de trabalho são bem-sucedidas na atração de migrantes qualificados, ao contrário de regiões historicamente estagnadas, como o norte de Minas e semi-árido do Nordeste.
Os resultados revelam, da mesma forma, que características das cidades diretamente relacionadas ao bem-estar e à qualidade de vida dos cidadãos são relevantes na atração de migrantes qualificados. Menor desigualdade social e menor nível de violência são importantes para a escolha por parte dos qualificados, assim como fatores climáticos, tais como invernos e verões menos rigorosos. Outrossim, os qualificados visam regiões próximas ao litoral.
Maior migração de mão-de-obra qualificada para o vizinho acarreta menor absorção de migrantes qualificados por parte do município em questão. O migrante qualificado pode escolher morar, graças ao menor custo de habitação, em uma cidade vizinha a um pólo dinâmico, mas trabalhar e utilizar serviços públicos exatamente no município vizinho.
Esses resultados apontam para uma coisa bastante simples e até intuitiva: a renda esperada é uma variável importante na tomada de decisão do trabalhador e na determinação do seu nível de bem-estar, mas não é o único motivo. Fatores que vão além da dinâmica do mercado de trabalho assumem uma dimensão respeitável quando o trabalhador com mais capital humano incorporado decide se fixar.
Se algumas cidades atraem migrantes qualificados, outras os expulsam. Há uma relação direta entre o nível de educação da população residente no município e a atração que exerce sobre migrantes qualificados: os qualificados tendem a ir para localidades com maior escolaridade. O padrão está de acordo com a hipótese da existência de "externalidades" positivas associadas ao capital humano. Implicitamente, os resultados revelam que essas localidades também valorizam o capital humano incorporado pelo imigrante na região de origem.
É um círculo virtuoso: municípios com alto nível de escolaridade atraem pessoas com maior escolaridade que, por sua vez, aumentam a produtividade do município. Um maior detalhamento do estudo ainda é necessário, mas as evidências sugerem a necessidade de uma política educacional levada a cabo pelo município, descentralizada, com incentivos à competitividade local, mas coordenada no governo federal ou no estadual. Desta forma, investimentos em educação potencializam o efeito compensatório (crowding-in) sobre os investimentos privados.
Carlos Wagner de Oliveira (foto) e Daniel da Mata são pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)
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