2008 . Ano 5 . Edição 45 - 05/07/2008
Francisco Alberto Severo de Almeida e Isak Kruglianskas
As políticas governamentais, as pressões sociais e a conscientização dos consumidores sobre a importância de haver crescimento econômico e social sem prejudicar o meio ambiente têm impactado a performance das empresas. Cada vez mais a sociedade, os governos e os mercados estabelecem tendências de consumo de produtos que atendam aos padrões ambientais.O pensamento estratégico empresarial sob a ótica da sustentabilidade demanda das organizações uma expertise de visão de futuro e ao mesmo tempo requer competências essenciais para a busca de novos mercados. Associam-se a esses fatores o imperativo de desenvolver novas tecnologias com vistas a ofertar produtos ou serviços que atendam às perspectivas e necessidades da geração atual, mas preservando as condições essenciais para suprir as necessidades das gerações futuras.
Por outro lado, o meio ambiente sustentável é uma variável externa que vem promovendo mudanças significativas na cultura das nações e nos ambientes macro e setorial das corporações e das empresas. Inserem-se nesse contexto os efeitos e as implicações dos gases de efeito estufa (GEE), o descongelamento das geleiras, o encurtamento das estações do ano e o aquecimento da superfície terrestre como elementos importantes para elaboração de estratégias empresariais. Esses fatores ambientais poderão ser objeto de análise estratégica sob o ponto de vista de uma oportunidade ou de uma ameaça.
Os impactos dos GEE, por exemplo, são marcantes quanto à necessidade de mudança da matriz energética de combustíveis fósseis para energia renovável. Empresas localizadas em países com energia à base de combustíveis fósseis, como a China, enfrentarão pressão maior de mercado. Por outro lado, o Brasil, cuja matriz energética tem base hidrelétrica, encontra espaço para potencializar a competitividade de suas empresas. O mesmo ocorre com relação ao aquecimento da superfície terrestre e suas conseqüências sobre as geleiras, o nível das águas dos oceanos e as estações do ano. Tais fenômenos têm gerado mudanças sistêmicas nas chuvas e estiagens por todo o planeta.
O Brasil, como exportador de commodities, poderá, se os prognósticos e cenários projetados se confirmarem, sofrer abalos em diversos segmentos da sua economia. Um deles, por exemplo, é a produção de etanol e de biocombustível, commodities estratégicas na questão energética. Empresas do setor sucroalcooleiro deverão observar em suas análises estratégicas os impactos que as mudanças climáticas trarão para seus negócios.Portanto, um fato é inexorável: as mudanças climáticas farão parte das estratégias empresarias nas próximas décadas.
Por isso, estratégia empresarial e sustentabilidade tornam-se elementos importantes nas definições dos rumos dos negócios.A aplicação de estratégias corporativas ou genéricas, das corporações ou unidades de negócios, cada vez mais estará relacionada à questão do desenvolvimento social sustentável. O alinhamento estratégico da gestão ambiental ao core business permitirá a definição da matriz dos negócios corporativos e principalmente de portfólio de produtos verdes, aqueles tecnologicamente compatíveis com os requisitos da sustentabilidade e das necessidades dos consumidores.
Desta forma, o empreendedorismo sustentável - o binômio estratégia empresarial e sustentabilidade - representa a resposta pragmática das empresas. As grandes corporações e as pequenas e médias empresas estão se ajustando à nova realidade dos negócios focada nos princípios do desenvolvimento sustentável.Conceitos socioambientais são internalizados pelas empresas como variável importante na definição da estratégia empresarial. Experiências demonstram a viabilidade de resultados operacionais positivos atendendo às expectativas dos acionistas e dos stakeholders com responsabilidade social. Enfim, as empresas, ao adotarem como estratégia o empreendedorismo sustentável, se preparam de forma proativa para os novos cenários do século XXI.
Francisco Alberto Severo de Almeida (foto) é professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) e Isak Kruglianskas é professor da Universidade de São Paulo (USP)
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