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A pobreza já foi medida. E agora?

2008 . Ano 5 . Edição 45 - 05/07/2008

Ricardo L. C. Amorim

Um país enorme, rico e... pobre! Essa é uma contradição antiga. No Brasil, a pobreza já chegou a ser confundida bucolicamente com a imagem das fazendas na primeira metade do século XX. Porém, a industrialização e a urbanização, a partir de 1930, tornaram seu peso tão gritante e destacado frente à riqueza disponível, que pensadores descreveram nossa sociedade por meio de opostos, dualidades. Na verdade, o desconcerto entre a pobreza contemporânea, numerosa e bárbara, e a imagem de um país que se quer cosmopolita e moderno é sintomático de uma sociedade fraturada com uma cidadania incompleta.

Então medem-se, estimam-se, criam-se índices, debatem-se números, contradizem-se métodos, formulam-se modelos econométricos, sofisticam-se indicadores, discutem-se filtros, derramam-se rios de tinta desenhando fórmulas sobre o papel, mas raramente, nas duas últimas décadas, os economistas se perguntaram francamente por que há tantos pobres no país. É uma pergunta básica, simples, quase inevitável e, no entanto, passou anos despercebida por trás da cortina de números e índices que só faziam medir o tamanho da pobreza com maior ou menor precisão. Acontece que esse exercício já ultrapassou os limites do bom senso, pois todos os indicadores mostram que a pobreza é enorme, concentrada nas grandes cidades e envia sinais contraditórios de rebeldia e esperança.

No passado, a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) tentou responder a essa questão e culpou a incapacidade dos setores exportadores modernos de absorver a mão-deobra disponível, obrigando-a à subsistência. A saída apontada, então, era a industrialização. Porém, a indústria veio e a pobreza continuou. Na análise dos determinantes da pobreza, lembremos que a industrialização com forte urbanização foi acompanhada em grande parte pela repressão aos movimentos organizados dos trabalhadores urbanos e por barreiras à criação de sindicatos de trabalhadores rurais. E o Brasil carregou durante o ciclo de expansão econômica de 1930 a 1980 uma situação social escandalosa. Essas características clássicas da pobreza são, na verdade, sintomas, conseqüências da ausência de reformas no campo, da pouca ação social do Estado e da fraqueza dos movimentos trabalhistas. Ou seja, evitou-se fazer as reformas capitalistas necessárias (agrária,social e tributária) num país que se quer moderno e justo.

O problema agravou-se quando o Brasil se afastou do crescimento econômico e somou, à antiga pobreza,uma nova.Ou seja, as políticas econômicas neoliberais dos anos 1990 geraram um novo contingente de pobres, diferente do tradicional.Os novos pobres têm alguma escolaridade,vêm de famílias pequenas, são urbanos e estão desempregados. O que fazer, então? O fundamental é o desenvolvimento das forças produtivas do país,mas esse desenvolvimento é permanentemente embotado pela condição periférica e dependente. O capital e seus proprietários urbanos não revolucionaram o país quando assumiram o poder e tampouco enfrentaram o capital estrangeiro. Preferiram posicionar-se como sócio menor, mas estável, da acumulação capitalista mundial.

Isso coloca dois desafios para se vencer a pobreza. Se a ação do Estado e o crescimento são imprescindíveis, então: (1) do lado fiscal, como alcançar a progressividade da estrutura tributária brasileira? No mesmo tom, como redirecionar os gastos públicos em favor do investimento público, reduzindo o pagamento de juros?; (2) do lado social, como democratizar a sociedade, fortalecendo os trabalhadores, sem que os grupos conservadores desestabilizem mais uma vez a legalidade? Claro é, portanto, que os desafios são imensos, as resistências fortes e inexistem modelos. Mas longe de acomodar-nos em medições, em saber mais do já sabido, é preciso criar o futuro. É preciso saber que cabe a nós plantar as soluções para aquelas maiores chagas: a pobreza e a desigualdade.


Ricardo Luiz Chagas Amorim é pesquisador do Instituto de Pesquisa  Econômica Aplicada (Ipea) e do Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professor licenciado da Universidade Mackenzie

 
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